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Universidade de Coimbra, com 720 anos de história, é a mais antiga universidade portuguesa. A história da Universidade de Coimbra remonta ao século seguinte ao da própria fundação da nação portuguesa, dado que a Universidade foi criada no século XIII, em 1290. Antes, porém, em 1288, foi elaborada uma Súplica ao Papa Nicolau IV (de que só se conhece o traslado) datada de 17 de Novembro de 1288 e assinada pelos abades dos Mosteiros de Alcobaça, Santa Cruz de Coimbra e S. Vicente de Lisboa e pelos superiores de 24 igrejas e conventos do Reino. Este documento solicitava a fundação de um “Estudo Geral” e aquelas instituições religiosas assumiam a garantia do seu financiamento. Não se sabe se a Súplica chegou à Santa Sé.
Desde a sua fundação e até ao final do século XVI, a Universidade de Coimbra consolidou a sua posição enquanto centro de formação de elites de um império onde o Sol nunca se punha.
Em 1290 dá-se a Criação do Estudo Geral Português, com a assinatura do documento “Scientiae thesaurus mirabilis”, por D. Dinis (1 de Março), confirmado pela bula “De statu regni Portugaliae” do papa Nicolau IV (9 de Agosto), com as Faculdades de Artes, Direito Canónico (Cânones), Direito Civil (Leis) e Medicina. A Universidade começa a funcionar em Lisboa.
Em 1308, o Estudo Geral passa para Coimbra; regressa a Lisboa em 1338 e a Coimbra em1354; volta a Lisboa em 1377 e é definitivamente instalado em Coimbra em 1537.
Em 1309, o Estudo Geral recebe os seus primeiros Estatutos, com o nome “Charta magna privilegiorum”.
Como dissemos anteriormente, em 1537, a Universidade é instalada definitivamente em Coimbra. Esta cidade assume-se como a cidade universitária portuguesa e dá-se início à instalação de numerosos colégios na cidade.
Em 1544, todas as Faculdades da Universidade de Coimbra reúnem-se no Páteo das Escolas.
A Universidade de Coimbra foi consolidando a sua posição enquanto instituição fundamental da cultura e da ciência em Portugal.
Em 1772, a Universidade recebe os “Estatutos Pombalinos”, os quais, entre outros aspectos, criam as Faculdades de Matemática e de Filosofia Natural (Ciências) e reformam os estudos da Medicina. Da reforma do ensino preconizada por estes estatutos resulta a necessidade de novos estabelecimentos científicos, originando a construção de novos edifícios destinados ao Laboratório Químico, ao Observatório Astronómico e à Imprensa da Universidade e instalação do núcleo inicial do Jardim Botânico.
Em 1773, dá-se Início à formação do Museu de História Natural, o mais antigo museu português, subdividido em sectores em 1885, de que resultou a constituição de quatro instituições: Zoologia, Botânica, Mineralogia e Geologia, e Antropologia.
Nesse mesmo ano, dá-se início ao funcionamento do Gabinete de Física Experimental.
Em 1836, são fundidas as Faculdades de Leis e Cânones na nova Faculdade de Direito.
No mesmo período em que se assistiu à democratização do ensino na Europa e em Portugal, a Universidade de Coimbra confirmou o seu grande prestígio, fruto não só de um passado único como também de uma tarefa laboriosa de adaptação constante a um mundo em mutação acelerada.
Actualmente, a Universidade constitui um verdadeiro ícone de Portugal, não só na Europa e nos países e territórios onde se fala Português, mas no mundo.
Em 1921, surge a Fundação da Faculdade de Farmácia.
Em 1948, dá-se a Renovação da Alta Universitária de Coimbra e a inauguração do edifício do Arquivo da Universidade, a que se seguem, em 1951 a Faculdade de Letras e o Observatório Astronómico, em 1956, a inauguração do edifício da Biblioteca Geral e Edifício da Faculdade de Medicina e, em 1961, a inauguração do complexo do Estádio Universitário, na margem esquerda do Mondego.
Em 1969 é inaugurado o edifício destinado à Secção de Matemática, ano em que surge a conhecida Crise Académica de 1969.
Em 1972, a Faculdade de Ciências é transformada na Faculdade de Ciências e Tecnologia, sendo, neste mesmo ano, criada a Faculdade de Economia.
Em 1975, um ano após a Revolução de Abril, é inaugurado o edifício dos Departamentos de Física e de Química, e, em 1980, a Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação.
Doze anos depois, em 1987, dá-se a transferência dos Hospitais da Universidade para as suas novas instalações, junto ao futuro Pólo das Ciências da Saúde e em 1992, iniciam-se as obras conducentes à instalação do Pólo 2 da Universidade de Coimbra, para, em 1997, ser criada a Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física.
Em 2001, iniciam-se as obras no Pólo das Ciências da Saúde da Universidade de Coimbra, para onde se transferirá a Faculdade de Medicina e a Faculdade de Farmácia, bem como vários centros e unidades de investigação.
Em Portugal, como um pouco por todo o mundo, a ideia da instituição Universidade de Coimbra encontra-se intimamente ligada à Alta Universitária, um conjunto arquitectónico heterogéneo de que se destacam as construções do chamado Estado Novo e, sobretudo, o Páteo e Paço das Escolas, dominados pela célebre Torre da Universidade.
Foi o Paço das Escolas que aglutinou, em 1544, todas as Faculdades da Universidade de Coimbra, após a instalação definitiva da Universidade nesta cidade, em 1537, e um verdadeiro percurso itinerante de quase três séculos entre Lisboa e a urbe do Mondego.
Neste período, em Coimbra, os Estudos Gerais (mais tarde designados Universidade) funcionaram no edifício conhecido como Estudos Velhos, sensivelmente onde se encontra a actual Biblioteca Geral, e distribuíram-se depois por localizações diversas, destacando-se os edifícios próximos do Mosteiro de Santa Cruz e o próprio Paço das Escolas.
No âmbito de uma visita ao Paço das Escolas, são imperdíveis os seguintes monumentos:
A Sala Grande dos Actos, que é a principal sala da Universidade de Coimbra. É também conhecida por Sala dos Capelos uma vez que, ainda hoje, é utilizada nas cerimónias académicas.
Quem visitar a Sala dos Capelos poderá visitar, também, a Sala do Exame Privado e a Sala das Armas.
A Sala do Exame Privado fazia parte integrante da ala real do palácio. Foi câmara real, ou seja, o local onde o monarca pernoitava. Também foi nesta sala que se realizou a primeira “reunião” entre o Reitor D. Garcia de Almeida e os lentes (professores) da Universidade, no dia 13 de Outubro de 1537, data da transferência definitiva desta instituição para Coimbra.
A Sala das Armas fazia parte da ala real do antigo paço. Alberga a panóplia das armas (alabardas) da Guarda Real Académica, que, ainda hoje, são utilizadas pelos Archeiros (guardas) nas cerimónias académicas solenes (Doutoramentos solenes, “honoris causa”, Investidura do Reitor, Abertura Solene das Aulas).
Merece, também, destaque a Biblioteca Joanina, conhecida como A Casa da Livraria, e que recebeu os primeiros livros depois de 1750, sendo a construção do edifício datável entre os anos de 1717 e 1728.
O edifício tem três andares e alberga cerca de 200.000 volumes, havendo no piso nobre cerca de 40.000 exemplares.
Resultante da condição privilegiada da Universidade, seria instalado, a partir de 1593, em dois antigos aposentos, sob a Sala dos Capelos, a Prisão Académica. Aí se conservaria até 1773, sendo então transferida para as infra-estruturas da Biblioteca Joanina que, por seu turno, incorporara, aquando da sua edificação, os restos arruinados do que fora o antigo cárcere do Paço Real, documentando o único trecho de cadeia medieval subsistente em Portugal.
Destinada a solenizar a entrada do recinto universitário, a Porta Férrea constitui a primeira obra de vulto empreendida pela Escola após a aquisição do edifício, por isso idealizada como um arco triunfal, de dupla face (na tradição da porta-forte militar), apologético da instituição, evocada no programa escultórico, alusivo às quatro faculdades (Teologia, Leis, Medicina e Cânones) e aos dois monarcas (D. Dinis, que fundou a Universidade, e D. João III, que a transferiu para Coimbra) fundamentais na sua história.
A Torre da Universidade, edificada entre 1728 e 1733, em substituição de uma outra, célebre, que João de Ruão erigira em 1561, seria riscada pelo arquitecto romano António Canevari, constituindo a matriarca das torres universitárias europeias. Aloja, além dos relógios, os sinos que regulam o funcionamento ritual da Universidade.
A Torre da Universidade apenas pode ser apreciada do seu exterior. Está, no entanto, em processo de reparação para futura visita ao seu interior, o que permitirá aos visitantes subirem ao seu topo e desfrutarem de uma vista ímpar sobre a cidade de Coimbra.
Merece, ainda, visita a Capela de S. Miguel construída no início do século XVI, substituindo uma anterior, provavelmente do século XII. A sua estrutura arquitectónica é manuelina, estilo decorativo visível sobretudo nos janelões da nave central e no arco cruzeiro.
Durante os seus mais de sete séculos de existência, a Universidade, hoje uma instituição de referência, foi crescendo, primeiro por toda a Alta de Coimbra e depois um pouco por toda a cidade.
Continuando a manter o renome de outros tempos, é, de um modo geral, indiscutível a qualidade do ensino na Universidade de Coimbra dentro do muito fragmentado panorama nacional de ensino superior.
Ao longo dos tempos, muitos foram os ilustres que aqui cursaram e que se imortalizaram na história da vida portuguesa e mesmo internacional. A título de exemplo, deixamos, aqui, uma lista daqueles que pertencem ao universo das figuras ilustres, independentemente da área em que se notabilizaram, não olhando a confissões religiosas ou ideologias políticas.
Assim, como cientistas merecem referência, Avelar Brotero, Ruy Luís Gomes, Egas Moniz - prémio Nobel da Medicina-, Pedro Nunes;
Como diplomata, Aristides Sousa Mendes;
No domínio da literatura, Eça de Queirós, Antero de Quental, Camilo Pessanha, António Nobre, Almeida Garrett, Miguel Torga, Mário de Sá Carneiro, Vergílio Ferreira, Fernando Namora, José Régio;
Como humanista, Eduardo Lourenço;
Ao nível jurídico, António Ferrer Correia, Carlos Alberto da Mota Pinto, José Joaquim Gomes Canotilho, Vital Martins Moreira;
Ao nível musical, António Menano, Edmundo de Bettencourt, Fernando Machado Soares, Adriano Correia de Oliveira, José (Zeca) Afonso, Luís Goes, António Portugal;
Na política, José Relvas, António de Oliveira Salazar, Barbosa de Melo, Alberto João Jardim, Manuel Alegre;
Ao nível dos prelados, Manuel Nicolau de Almeida, Manuel Gonçalves Cerejeira;
Como Presidentes da República Portuguesa, Manuel de Arriaga, Teófilo de Braga, Bernardino Machado, Sidónio Pais, António José de Almeida, Manuel Teixeira Gomes
Como Primeiros-ministros, Sebastião José de Carvalho e Mello, Marquês de Pombal, Carlos Mota Pinto, Ernesto Hintze Ribeiro, António de Oliveira Salazar.
Dizem aqueles que passaram a sua vida académica na cidade do Mondego que jamais a podem esquecer. No Penedo da Saudade, do Choupal até à Lapa, nas Margens do Mondego, e em tantos outros lugares da cidade, são muitas as recordações que lá deixaram e de lá trouxeram que os leva, indefinidamente, a dizer “Coimbra tem mais encanto na hora da despedida”.