Aqui está uma notícia que nos alegra a todos, amantes do Fado
Disco de massa de 78 rpm- Alfredo Marceneiro canta "Cabelo Branco" 1936
Estado garante a compra da colecção de discos de música portuguesa na posse de Bruce Bastin
Lisboa, 13 Jun (Lusa) - A colecção dos discos de música portuguesa na posse do britânico Bruce Bastin vai ser adquirida por Portugal, garantiu hoje à agência Lusa o secretário de Estado da Cultura, Mário Vieira de Carvalho.
"Dentro de uma semana, poderemos acertar a minuta do contrato da compra, no valor de 1,1 milhões de euros", disse o governante.
O Ministério da Cultura e a Câmara de Lisboa "aceitaram reforçar em 100.000 euros cada um, a sua participação, de modo a cobrir o valor pedido por Bruce Bastin", disse Vieira de Carvalho.
O ministério, a quem caberá a guarda e tratamento do espólio, participará com 400 mil euros, tal como a Câmara de Lisboa, e os restantes 300 mil euros são assegurados por um mecenas, cuja identidade não foi revelada, sabendo-se tratar de uma entidade bancária.
Mário Vieira de Carvalho fez hoje este anúncio, depois de ter recebido uma carta da Câmara de Lisboa confirmando que garantia o reforço de 100 mil euros.
O então vereador da Cultura, José Amaral Lopes, tinha já afirmado à Lusa a disponibilidade da edilidade em "avançar com mais 100 mil euros, para Portugal não perder o espólio".
"A colecção irá integrar o futuro Museu da Música e do Som, onde há pessoal técnico para o tratamento específico deste material", disse Vieira de Carvalho.
Contactado pela agência Lusa, o advogado José Alberto Sardinha, representante legal de Bruce Bastin, confirmou ter sido já contactado no sentido "de se redigir minuta da versão final do contrato de compra".
O estudo deste espólio, maioritariamente constituído por discos de fado, é considerado essencial por vários investigadores.
Para o musicólogo Rui Vieira Nery, a aquisição deste espólio "é essencial para um melhor conhecimento da história fadista, nomeadamente nos primórdios da gravação fonográfica".
A colecção inclui registos fonográficos efectuados entre 1904 e 1945 pela His Master's Voice, Columbia, Homokord, Victor ou Grammophone, estando, na sua maioria, dados como perdidos.
Entre as vozes de referência, estão gravadas as de Júlia Florista, Maria Vitória e Reinaldo Ferreira.
Bastin tinha na sua posse cinco mil registos fonográficos de música portuguesa, entre baladas, folclore, canção ligeira e fado, a que se juntam outros três mil encontrados no Brasil e adquiridos pelo coleccionador.
Entre os cerca de oito mil discos encontram-se algumas das primeiras gravações de artistas nacionais como José Bastos, Isabel Costa, Almeida Cruz, Eduardo de Souza, Rodrigues Vieira ou Delfina Victor.
O espólio encontra-se em "muito boas condições", afiançou à Lusa o investigador José Moças, que o descobriu e propôs a sua aquisição por Portugal.
"Estas são - realçou - as primeiras gravações de fado de sempre, que nos irão dar, certamente, uma outra perspectiva da história desta canção popular urbana".
Além dos fados, são, na avaliação de Moças, "igualmente importantes do ponto de vista musical e etnográfico registos mais tardios de Maria Alice, Manasses de Lacerda, Avelino Baptista, Estêvão Amarante, Madalena de Melo, Maria Emília Ferreira, Júlia Florista e Maria do Carmo Torres, bem como dos mais conhecidos Ercília Costa, Berta Cardoso, António Menano, Edmundo de Bettencourt, Armandinho e o popular Alfredo Marceneiro".
NL.
Lusa/Fim
Vieira Nery, Mariza, Sara Pereira e Amigos do Fado aplaudem compra da colecção de discos de música portuguesa
Lisboa, 13 Jun (Lusa) - O musicólogo Rui Vieira Nery afirmou à Lusa que a compra dos discos de música portuguesa, na posse de Bruce Bastin, anunciada hoje pelo secretário de Estado da Cultura, é "algo pelo qual todos nos congratulamos".
"Ninguém compreendia esta não concretização ou o ter sido repetidamente adiada pelo Ministério da Cultura esta decisão", disse Nery.
"Fico muito feliz pois esta compra permite o enriquecimento do espólio fonográfico português", acrescentou.
Sara Pereira, gestora do Museu do Fado, disse que esta era "uma decisão esperada, no sentido em que se tem trabalhado para a sua concretização".
A gestora do Museu, no bairro lisboeta de Alfama, afirmou que o estudo da colecção "é fundamental para um melhor conhecimento da historiografia do fado".
"Muitos nomes desconhecidos vão ser agora divulgados e, apesar de mais de metade da colecção ser fado, é um enriquecimento também para a música portuguesa em geral", afirmou.
Efusiva, Mariza, embaixadora da candidatura do fado a património imaterial da humanidade pela UNESCO, afirmou à Lusa ser esta "uma notícia genial".
"Para mim, que tanto me bati pela vinda desta colecção para Portugal, é um sonho tornado realidade", afirmou.
A fadista afirmou que "esta colecção coloca tudo em aberto quanto às origens do fado e vem beneficiar-nos a todos, pois ficamos a conhecer melhor como se cantava, tocava, etc".
"Eu que pergunto sempre aos mais velhos como era e procuro aprender, estou muito curiosa em saber o que nos reserva a colecção. Resta agora saber quando a vamos poder ver e estudar", disse a criadora de "Ó gente da minha terra".
A presidente da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado (APAF), Julieta Estrela, membro do conselho consultivo do Museu do Fado, afirmou-se satisfeita "por terem chegado a bom porto as negociações".
Para Julieta Estrela, "é essencial agora garantir a sua preservação, digitalização, para que não se perca, e permitir um acesso efectivo dos investigadores de modo a tirar proveito do que nos poderão revelar essas gravações".
Numa altura em que se prepara a candidatura do fado a patrinmónio imaterial da humanidade, a presidente da APAF afirmou que "a colecção pode dar uma achega essencial".
Julieta Estrela afirmou-se curiosa em conhecer algumas vozes de que só havia memória literária, como o caso de Maria Vitória ou Júlia Florista, bem como a forma como se interpretava e acompanhava instrumentalmente o fado.
"Para os fados tradicionais e mais antigos, casos do Corrido, Mouraria e Menor, poderá haver surpresas", rematou.
O estudioso de fado Vítor Duarte Marceneiro, actualmente empenhado na concretização de uma base de dados de canções sobre Lisboa, é perentório em afirmar que "o estudo desta colecção vai trazer surpresas".
O estudo de uma coelcção que faz todo o sentido vir, finalmente, para Portugal pode "demonstrar outras formas de interpretação e a revelação de nomes de que nem temos memória".
Neto de Alfredo Marceneiro, o investigador considera que o repertório do seu avô está amplamente conhecido e divulgado, "não sendo de crer que haja novidades", mas "haverá certamente de outros nomes, nomeadamente de Maria Alice".
A colecção inclui registos fonográficos efectuados entre 1904 e 1945 pela His Master's Voice, Columbia, Homokord, Victor ou Grammophone, estando, na sua maioria, dados como perdidos.
Entre as vozes de referência, estão gravadas as de Júlia Florista, Maria Vitória e Reinaldo Ferreira.
Bastin tinha na sua posse cinco mil registos fonográficos de música portuguesa, entre baladas, folclore, canção ligeira e fado, a que se juntam outros três mil encontrados no Brasil e adquiridos pelo coleccionador.
Entre os cerca de oito mil discos encontram-se algumas das primeiras gravações de artistas nacionais como José Bastos, Isabel Costa, Almeida Cruz, Eduardo de Souza, Rodrigues Vieira ou Delfina Victor.
O espólio encontra-se em "muito boas condições", disse à Lusa Sara Pereira que teve já possibilidade de o examinar e acompanhou as negociações.
NL.
Lusa/Fim