Nasceu na Costa da Caparica, filha de pescadores, Ercília Costa iniciou-se na música quase por acaso. Sem ter prévia experiência musical ou artística, apenas motivada pelo gosto de cantar, ainda adolescente apresentou-se no Conservatório de Lisboa em resposta a um anúncio, para encontrarem cantores para uma récita a realizar no Teatro de São Carlos. Ercília foi apurada, mas a representação acabou por não se fazer.
O actor Eugénio Salvador, ouve-a nas provas do Conservatório, a sua voz agrada-lhe e logo a convida para fazer parte do elenco da companhia do Teatro Maria Vitória, onde actuou ao lado das maiores vedetas do palco da altura, como Luísa Satanella e Beatriz Costa.
Dotada de uma voz privilegiada, com certo acento dramático, bem cedo conquistou posição invejável a interpretar o fado. Tornar-se-ia verdadeiramente popular como fadista, actuando em muitos retiros e nas mais importantes casas típicas da altura.
A sua estreia como profissional foi no retiro Ferro de Engomar, onde lançou a moda do xaile negro que as fadistas ainda hoje usam, chamavam-lhe então a “Sereia Peregrina do Fado” e também a “Santa do Fado” (por cantar de mãos postas em gesto de oração).
Em 1931 entra na revista "O Canto da Cigarra", levada à cena no Teatro Variedades, onde tem um êxito estrondoso com o “Fado Lisboa” com letra de Álvaro Leal e música de Raul Ferrão.
Em 1932 desloca-se à Madeira e aos Açores com João da Mata, Armandinho e Martinho d'Assunção.
Em 1936 vai ao Brasil com a Companhia de Vasco Santana e Mirita Casimiro, de que foi primeira figura de cartaz, obtendo enorme sucesso, pelo que no seu regresso a Portugal foi distinguida com homenagens realizadas uma no salão de chá do Café Chave d' Ouro e outra no Retiro da Severa.
Realiza vários espectáculos no estrangeiro, França em 1937, EUA em 1939 acompanhada por Carlos Ramos, onde cantou no pavilhão português da Feira Internacional de Nova Iorque.
Participou igualmente em alguns filmes, e, caso raro, chegou a compor algumas das suas criações mais célebres, como o Fado da Mocidade ou O Filho Ceguinho (conhecido como o Menor da Ercília).
Voltou ainda ao Brasil (onde permanece quinze meses seguidos) na época de 1945-46, integrada na Companhia Alda Garrido.
Depois de participar em 1951 no filme Madragoa e de algumas actuações pontuais em espectáculos de beneficência, abandonou a carreira para se dedicar ao seu casamento, sem nunca ter cedido à tentação de regressar ao palco.
Em 1972 Ercília Costa gravou o seu último disco com o título de “Museu do Fado”, incluindo alguns dos seus maiores sucessos.
Tentam fazer-lhe uma festa de despedida, mas não aceitou, alegando que algum dia podia precisar de voltar.... Mas tal não aconteceu.
Ercília Costa foi uma das grandes cantadeiras de fado da primeira metade do século XX. O seu nome é hoje pouco recordado, pois as gravações que realizou são anteriores aos anos cinquenta, altura em que se começou a popularizar o disco gravado, mas no seu tempo foi uma vedeta acarinhada pelo público e foi certamente, antes de Amália uma das fadistas mais internacionalizadas.
Do seu vasto reportório relembramos os fados: Meu Tormento, Saudades Que Matam, Pobreza Envergonhada, Pesar Profundo, Divina Graça, Amor de Mãe, O Meu Filho, Rosas, A Minha Vida, Fado Tango, Fado Sem Pernas, Fado Dois Tons, Fado Corrido, Fado Aida, Fado Ercí1ia, Negros Traços, Desilusão, Um Desgosto, Padre-Nosso Pequenino, Juro, Fado da Amargura, e as desgarradas com o Dr. António Menano e Fado da Mouraria também à desgarrada com Joaquim Campos.
FADO DA AMARGURA
Letra de João da Mata
Repertório de Ercília Costa
I
Que tristeza
Deus me deu,
Não existe, com certeza,
Ninguém mais triste do que eu.
Com descrença
Vou cantando
Minada pela doença
Que aos poucos me vai matando.
Cantar; cantar;
Versos de amor; de prazer;
Oh! Quem me dera poder
Cantá-los sem me esforçar.
A toda a hora
Sinto minha alma doente
Pois não sou, infelizmente,
A mesma que fui outrora.
II
Que saudade, Que amargor;
Dos tempos da mocidade
Feitos de sonho e de amor!
Sonho lindo,
Doce e brando
Outrora cantei sorrindo
Mas hoje canto chorando...
Ai! Se eu pudesse
Gozar saúde outra vez
Ao bom povo português
Cantaria numa prece,
Agradecendo
À gente que é tão amiga
Desta infeliz rapariga
Que vai cantando e morrendo.
Nasceu na Costa da Caparica, filha de pescadores, Ercília Costa iniciou-se na música quase por acaso. Sem ter prévia experiência musical ou artística, apenas motivada pelo gosto de cantar, ainda adolescente apresentou-se no Conservatório de Lisboa em resposta a um anúncio, para encontrarem cantores para uma récita a realizar no Teatro de São Carlos. Ercília foi apurada, mas a representação acabou por não se fazer.
O actor Eugénio Salvador, ouve-a nas provas do Conservatório, a sua voz agrada-lhe e logo a convida para fazer parte do elenco da companhia do Teatro Maria Vitória, onde actuou ao lado das maiores vedetas do palco da altura, como Luísa Satanella e Beatriz Costa.
Dotada de uma voz privilegiada, com certo acento dramático, bem cedo conquistou posição invejável a interpretar o fado. Tornar-se-ia verdadeiramente popular como fadista, actuando em muitos retiros e nas mais importantes casas típicas da altura.
A sua estreia como profissional foi no retiro Ferro de Engomar, onde lançou a moda do xaile negro que as fadistas ainda hoje usam, chamavam-lhe então a “Sereia Peregrina do Fado” e também a “Santa do Fado” (por cantar de mãos postas em gesto de oração).
Em 1931 entra na revista "O Canto da Cigarra", levada à cena no Teatro Variedades, onde tem um êxito estrondoso com o “Fado Lisboa” com letra de Álvaro Leal e música de Raul Ferrão.
Em 1932 desloca-se à Madeira e aos Açores com João da Mata, Armandinho e Martinho d'Assunção.
Em 1936 vai ao Brasil com a Companhia de Vasco Santana e Mirita Casimiro, de que foi primeira figura de cartaz, obtendo enorme sucesso, pelo que no seu regresso a Portugal foi distinguida com homenagens realizadas uma no salão de chá do Café Chave d' Ouro e outra no Retiro da Severa.
Realiza vários espectáculos no estrangeiro, França em 1937, EUA em 1939 acompanhada por Carlos Ramos, onde cantou no pavilhão português da Feira Internacional de Nova Iorque.
Participou igualmente em alguns filmes, e, caso raro, chegou a compor algumas das suas criações mais célebres, como o Fado da Mocidade ou O Filho Ceguinho (conhecido como o Menor da Ercília).
Voltou ainda ao Brasil (onde permanece quinze meses seguidos) na época de 1945-46, integrada na Companhia Alda Garrido.
Depois de participar em 1951 no filme Madragoa e de algumas actuações pontuais em espectáculos de beneficência, abandonou a carreira para se dedicar ao seu casamento, sem nunca ter cedido à tentação de regressar ao palco.
Em 1972 Ercília Costa gravou o seu último disco com o título de “Museu do Fado”, incluindo alguns dos seus maiores sucessos.
Tentam fazer-lhe uma festa de despedida, mas não aceitou, alegando que algum dia podia precisar de voltar.... Mas tal não aconteceu.
Ercília Costa foi uma das grandes cantadeiras de fado da primeira metade do século XX. O seu nome é hoje pouco recordado, pois as gravações que realizou são anteriores aos anos cinquenta, altura em que se começou a popularizar o disco gravado, mas no seu tempo foi uma vedeta acarinhada pelo público e foi certamente, antes de Amália uma das fadistas mais internacionalizadas.
Do seu vasto reportório relembramos os fados: Meu Tormento, Saudades Que Matam, Pobreza Envergonhada, Pesar Profundo, Divina Graça, Amor de Mãe, O Meu Filho, Rosas, A Minha Vida, Fado Tango, Fado Sem Pernas, Fado Dois Tons, Fado Corrido, Fado Aida, Fado Ercí1ia, Negros Traços, Desilusão, Um Desgosto, Padre-Nosso Pequenino, Juro, Fado da Amargura, e as desgarradas com o Dr. António Menano e Fado da Mouraria também à desgarrada com Joaquim Campos.
FADO DA AMARGURA
Letra de João da Mata
Repertório de Ercília Costa
I
Que tristeza
Deus me deu,
Não existe, com certeza,
Ninguém mais triste do que eu.
Com descrença
Vou cantando
Minada pela doença
Que aos poucos me vai matando.
Cantar; cantar;
Versos de amor; de prazer;
Oh! Quem me dera poder
Cantá-los sem me esforçar.
A toda a hora
Sinto minha alma doente
Pois não sou, infelizmente,
A mesma que fui outrora.
II
Que saudade, Que amargor;
Dos tempos da mocidade
Feitos de sonho e de amor!
Sonho lindo,
Doce e brando
Outrora cantei sorrindo
Mas hoje canto chorando...
Ai! Se eu pudesse
Gozar saúde outra vez
Ao bom povo português
Cantaria numa prece,
Agradecendo
À gente que é tão amiga
Desta infeliz rapariga
Que vai cantando e morrendo.