Manuel Eugénio Angeja de Sá, nasceu a 29 de Março de 1945, no típico bairro da Ajuda, em Lisboa.
Notas biográficas pelo próprio:
Lisboa está-me nas veias, tal como a literatura e a poesia, que sempre me cativaram o espírito.
Por circunstâncias da vida familiar, cedo conheci Sintra, onde vivi e estudei durante toda a fase do ensino secundário. Uma vila encantada, que ainda hoje visito regularmente.
A frequência do Instituto Comercial levou-me ao quotidiano da capital, até que chegou o tempo de cumprir o serviço militar na Força Aérea Portuguesa, corria então o ano de 1962.
Hábitos de leitura, a que uma avó querida não é alheia, dotaram-me de vontade e gosto pelo conhecimento.
Trabalhei 37 anos em diferentes Órgãos de Comunicação e em duas Agências de Publicidade multinacionais. Toda uma vida profissional rica em experiências e relacionamento humano.
O deslumbramento pela poesia chegou em 1968, trazida num livrinho que recebi das mãos de José Saramago, então colaborador do Jornal A Capital, onde iniciei a minha actividade de comunicador, a que me dediquei largos anos. Todavia, só em 1999 comecei a escrever poesia.
Dos últimos cinco anos, quatro foram passados na América do Sul (Brasil e Colômbia), onde reuni material e experiência para escrever um livro. Provavelmente será um livro de crónicas, género literário onde estou mais à vontade, e que me permita reunir num único volume um conjunto de textos escolhidos que abordam o comportamento humano face às várias culturas que conheci na Europa, em África e na América do Sul.
Em Abril de 2011 regressei definitivamente a Portugal.
É Membro Efectivo da APP – Associação Portuguesa de Poetas e da AVBL - Academia Virtual Brasileira de Letras.
Para contactar Eugénio de Sá:
e-mail: eugesa@zonmail.pt
https://www.facebook.com/eugenio.sa.9
A NOITE DE LISBOA
Prosa de Eugénio de Sá
Voz: Luís Gaspar (Estúdios Raposa)
Video Clip VDM
A noite de Lisboa
Por: Eugénio de Sá
Fosforejam, na noite, os olhos de Lisboa.
Do seu ventre fadista
nascem os primeiros acordes das guitarras.
Nas suas artérias nobres,
que outrora conheceram o passeio alegre
de tantos poetas e escritores,
hoje manda o silêncio.
Não se ouvem já os ecos da tertúlia da Brasileira,
da sonora gargalhada de mestre Almada Negreiros,
dos passos tímidos do grande Fernando Pessoa,
da algazarra de Cardoso Pires
e dos seus amigos marialvas, a saltitar de bar em bar.
Alcântara, Cais do Sodré... ali ainda cheira a Tejo,
a cacilheiros, a maresia, a saudade.
Ali, as memórias vogam sobre as águas
daquele Tejo que conheceu tempos melhores,
de varinas, de peixe, da Ribeira...
de gente mais feliz,
que gostava de acabar a noite a saborear-lhe o cacau!
Ah; Lisboa alvissareira, bem disposta,
cruzada pelos pregões
das sardinhas, das favas, das castanhas, dos jornais....
que foi que te fizeram?
- Quem te silenciou o encanto da vida?
- Quem te baixou à condição única de comerciante,
que até o fado vendes a quem o quer comprar?
- Quem te mandou cumprir o único papel que decoraste;
o turístico, atenta e veneradora,
a cobrar uns quantos euros pela visita ao castelo?
Não que de condenável nada tenha essa atitude...
Mas só essa?
Bem, verdade se diga, tens muito mais para oferecer;
a tua belissima e ancestral monumentalidade,
os teus museus…
e os tipicos elevadores que levam aos deslumbrantes miradouros
que pasmam e enchem cada alma que lhes aflora os varandins…
E com os rubros alvores da madrugada vão-se calando, aos poucos,
as guitarras e as vozes dos fadistas,
e o teu fado, agora qualificado de Património Imaterial da Humanidade,
deita-se no respeitável aconchego das vielas,
até que a noite volte de novo a despertá-lo.