Recebi também por e-mail, (do qual transcrevo excertos) com o pedido de publicação, em destaque, o artigo publicado no Jornal de Negócios pelo distinto jornalista Manuel Falcão, do nosso amigo Júlio Guedes, (que já ontem nos colocou uma observação muito bem elaborada) por considerar que este artigo afinal nos vem confirmar que há gente de reconhecida capacidade de análise, que estão em cima do acontecimento, e diz ainda: — mas como diria a amiga Maria de Jesus "o alfaite parece estar imune às criticas".
UM FADO ESPANHOL?
«Não tenho nada, mas mesmo nada, contra a intensificação das relações com Espanha e até acho que todos teríamos a ganhar se elas fossem alargadas. Mas entendo que esse alargamento, desejável, deve ser alicerçado na defesa das respectivas identidades culturais e não num pot-pourri ibérico.
Em Espanha, aliás, cada uma das regiões soube bem impor a salvaguarda das suas culturas. O caminho para uma união livre passa por estabelecer princípios claros.
Vem isto a propósito de (...) uma inesperada apologia de um velho projecto de encomendar ao realizador espanhol Carlos Saura um filme sobre o Fado.
A história é antiga: Carlos do Carmo teria ficado seduzido pela forma como Saura conseguiu filmar o flamenco e achou, enquanto membro da Comissão para a classificação do fado Como Património Artístico da Humanidade, que devia ser ele a fazer o filme promocional da candidatura.
Eu sempre achei que isto era uma daquelas ideias pacóvias, falsamente cosmopolitas, e que falhava no básico: Saura filmou bem o flamenco porque o sente; pela mesmíssima razão devia procurar-se um realizador português que sentisse o Fado – sem ser nostálgico, capaz de uma visão universal, capaz de dar alma ao filme.
As escolhas possíveis são muitas e tenho na cabeça meia dúzia de nomes que garantidamente fariam muito bom serviço. (...) Um filme sobre o fado, realizado por Carlos Saura não augura nada de bom. E é um insulto aos realizadores portugueses.
In Jornal de Negócios Manuel Falcão