A coragem e oportunidade de Francisco José, que ao actuar em directo num programa, na RTP antes do 25 de Abril, denunciou a falta de apoio dado aos artistas portugueses quer na Rádio, quer na Televisão. As suas palavras caíram que nem uma "bomba" nos poderes de então, de tal forma, que a partir da aquele incidente, os programas em directo na RTP, foram proibidos, e Francisco José foi considerado "persona non grata" quer na RTP quer na Emissora Nacional.
Já escrevi aqui sobre este grande artista, recebi do meu amigo do Porto o Dr. José Manuel Pedrosa Moreira, um Video-Clip, em que Francisco José canta "Olhos Castanhos", volto a relembrá-lo com muito gosto.
O panorama hoje está na mesma, ou ainda pior, excepção feita a dois ou três eleitos (do lobbie). Há alguns que sofreram censuras e hoje são censores!!
Acompanhei grande parte do «percurso artístico» do Chico Zé que, um dia, teve a coragem de trocar as «engenharias» pelas cantigas que eram, afinal, a sua grande paixão. Testemunhei, inclusivamente, os seus primeiros passos com o Prof. Mota Pereira, no Centro de Preparação de Artistas da Rádio, onde despontaram algumas das grandes «estrelas» do microfone que principiaram a brilhar por volta dos anos 50.
O Chico Zé impôs-se, rapidamente, como uma das vozes mais bonitas e mais românticas da Rádio que, na época, era o meio de comunicação por excelência, em Portugal. As jovens sonhadoras e apaixonadas desse tempo suspiravam extasiadas ao ouvirem aquela voz bem timbrada (a que não faltava sequer um ligeiro «toque» alentejano) e acorriam, frenéticas, às salas de espectáculo onde o seu ídolo se apresentava.
O saudoso poeta e homem da Rádio, José Castelo, um dos responsáveis do popular «Comboio das seis e meia» que animava os fins de tarde no Politeama e no Capitólio, começou um dia a chamar-lhe «o coração que canta» e o «slogan» ficou. Com a chegada da Televisão a Portugal, o sucesso do Chico Zé ganhou uma nova dimensão e um dia surgiu a hipótese de viajar até ao Brasil. Atraído pelo sabor da aventura, o Chico Zé lá foi e o sucesso foi estrondoso, não sem que, antes, tivesse de travar uma sucessão de duras «batalhas» que sempre conseguiu superar. Creio que para lá do seu estilo romântico, servido por uma voz invulgarmente agradável e bem timbrada, o seu triunfo no Brasil ficou a dever-se a uma perfeita dicção que permitia entender tudo aquilo que ele cantava. Um amigo meu, jornalista do grande país irmão, disse-me uma vez a propósito do sucesso do nosso artista em terras brasileiras: «Você sabe que nós nem sempre entendemos, com facilidade, tudo o que um português está falando mas com o Francisco José a coisa é diferente – não perdemos uma só palavra do que ele canta e isso é muito importante, em especial se os versos são gostosos de se ouvirem...»
Artur Agostinho
Francisco José canta: RECADO A LISBOA Letra de:João Villaret Música de Armando da Câmara Rodrigues Lisboa querida mãezinha Com o teu xaile traçado Recebe esta carta minha Que te leva o meu recado Que Deus te ajude, Lisboa A cumprir esta mensagem Dum português que está longe E que anda sempre em viagem Estribilho Vai dizer adeus à Graça Que é tão bela, que é tão boa Vai por mim beijar a Estrela E abraçar a Madragoa E mesmo que esteja frio Que os barcos fiquem no rio Parados sem navegar Passa por mim no Rossio E leva-lhe o meu olhar Se for noite de S. João Lá pelas ruas de Alfama Acende o meu coração No fogo da tua chama Depois leva-o p´la cidade Num vaso de manjerico Para matar a saudade Desta saudade em que fico Estribilho Monte e Igreja da Graça