Manuel Da Graça, que foi amigo e empresário de Fernando Farinha nos Estados Unidos e em França, fez questão de oferecer ao espólio da Associação Cultural de Fado "O Patriarca do Fado" - Alfredo Marceneiro, a Guitarra Portuguesa que o Fernando Farinha possuia, e que embora não tocasse sempre que ia ao estrangeiro gostavde levar o simbolo do fado, na útima vez que esteve nos Esrados Unidos ofereceu ao Manuel DaGraça. Foiu uma honra esta oferta
No fim da Idade Média, vulgarizou-se chamar-se “guitarra”, na Península Ibérica, a todo o instrumento de dedilhação, Provinha a palavra do étimo grego “Kitara”, que em latim tinha a grafia de” Chitara”, ou “Cítara”.
Mas o instrumento medieval mais usado para acompanhamento de canções era o “Alaúde”, que só apareceu na Europa para além dos Pirinéus, no século XIII, mas na Península Ibérica já era utilizado desde o século VIII.
Havia também um outro instrumento em forma de “8”, de uso mais popular e também denominada guitarra, ou mais precisamente “Guitarra Castelhana”, que em Espanha acabou com a utilização do “Alaúde”.
Em Portugal continua-se a utilizar o “Alaúde” mas agora denominado de “Guitarra”, em relação à “Guitarra Castelhana”, os portugueses passam a denominá-la de “Viola” do latim “Vitula” já que a sua forma se assemelha ao instrumento de concerto “Viola de Arco”.
Hoje fazemos referência à Guitarra Portuguesa, à Viola de Fado e à Guitarra Clássica (Espanhola)
Apenas em Portugal se mantém a parelha da Guitarra com a Viola para acompanhar o Fado.
Até ao século XVIII, o sistema de afinação das guitarras portuguesas era constituído por “cravelhas de madeira”, mais tarde (no tempo da Severa) aparece a “chapa metálica quadrangular”, cuja afinação se fazia com uma chavinha de relógio. No final de século XIX, toma a forma actual de leque, afinada por esticadores em parafuso, (no tempo da Cesária e da Maria Vitória) e que tem vindo a sofrer alterações até aos dias de hoje.
Era e é notório o amor tradicional dos portugueses pela sua guitarra.
Afirma-se que era tal a afeição pela guitarra pelos portugueses, que após a trágica jornada de Dom Sebastião em que o nosso Rei foi derrotado pelo Sultão de Fez de Marrocos, que entre os despojos do acampamento dos portugueses havia milhares de guitarras.
Também os nossos marinheiros levavam guitarras nas caravelas que singrava os mares à descoberta de Novos Mundos.
Foi na distância das terras longínquas que a saudade da Pátria e das afeições apartadas, que as trovas dos nautas portugueses ganharam novos ritmos e o Fado actual entrou em embrião
in: Fado de Mascarenhas Barreto
Variações na Guitarra Portuguesa por José Nunes
GUITARRA, VEM COMIGO!
Letra: Carlos Conde
Guitarra, velha amiga e companheira,
Da boémia afadistada
Vem daí perde a noite inteira
Em alegra ramboiadada
Como foste e grande amiga
Das rimas de uma cantiga
Em tempos que já lá vão.
Quero andar contigo à toa
Pelos Bairros de Lisboa
Onde mora a tradição
Velha guitarra
Meu sonha e fado
Vamos p´ra a farra
Lembrar tempos do passado.
Quero mostrar
Que tenho brio
Para cantar
Um despique ao desafio!
Vem daí, mostrar à mocidade
A graça que o fado tinha
Vamos correr os bairros da cidade
Onde tu foste rainha!
Vem, guitarra, vem comigo,
Reviver o tempo antigo
Que o teu passado resume;
Viver no fado a balbúrdia
Das grandes noites de esturdia,
Juras, amor e ciúme!
Quando publiquei esta página em Maio de 2007 recebi esta nota, que muito me apraz trancrever.
De João Filipe Braga a 23 de Agosto de 2007 às 18:33
Caro Vitor,
Gostaria antes de mais, de o congratular por todo o precioso trabalho que tem vindo a desenvolver,e , de lhe agradecer por toda a informação que tem divulgado e disponibilizado neste seu site.
Gostaria de complementar a informação alusiva á guitarra portuguesa, referindo que existem actualmente duas variantes na Guitarra Portuguesa, nomeadamente a de Lisboa e a de Coimbra, diferindo ambas nas sua morfologia, na sua ornamentação bem como na sua afinação e consequente sonoridade, e técnica de execução.
Cracteriza-se a guitarra de lisboa, pela sua maior caixa de ressonância, e pelo remate da sua extremidade a qual se desenvolve segundo uma voluta, estando munido o instrumento de inumera ornamentaçãona sua escala, na sua boca e no remate das suas ilhargas. A sua execução apresenta-se tal como instrumento, mais ornamentada.
A guitarra de Coimbra nasce pela mão de Artur Paredes, nesta mesma cidade, a qual foi concebida para ser tocada na rua, tendo assim uma afinação mais grave (afinando um tom abaixo da guitarra de lisboa) de forma a poder projectar o seu som. É um objecto despojado de qualquer ornamentação, recusando inclusivamente a marcação da sua escala nos trastos do seu braço. A sua extremidade termina com uma lagrima, a qual é uma alusão à lagrima de Sta Isabel, Padroeira de Coimbra. O seu leque de afinação difere tambem do lisboeta.
A sua técnica de execução é coerente á sua austeridade.
Existe porem uma terceira variante na guitarra portuguesa, denominando-se de Guitarra do Porto, a qual apresenta uma dimensão menor e diferindo das outras pela ornamentação da sua extremidade a qual apresenta o desenho de um rosto humano, de uma flor ou de um animal
Álvaro Merceano da Silveira (Álvaro Ilhéu), nasceu no Funchal em 1883, faleceu em Lisboa em 1975.
Aprendeu no Funchal a arte de construtor de violinos com Augusto M. da Costa.
Vem para Lisboa e continua a construir violinos bem como alaúdes especialmente para Inglaterra, mas foi como guitarreiro que adquiriu fama de nomeada, guitarristas de mérito foram seus clientes, Armandinho , Salgado do Carmo, Júlio Silva, Jaime Santos e outros.
Jaime Santos afirmou: — Álvaro da Silveira é o construtor de guitarras que mais conhece da sua arte em Portugal, trata-se quanto a mim, do único que resta da «velha guarda», considero ainda que quase a fazer os noventa anos é o Stradivarius ” português
ENTREVISTA
In : Revista TV – 1968
Fotos de: Coelho da Silva
Texto de: Torquato da Luz
Álvaro da Silveira: duas mãos que falam mais do que a boca, duas mãos expressivas que acariciam mansamente as cordas da guitarra. É de tarde e, lá fora, pelos, vidros da janela fechada, vejo que cai uma chuva miudinha, triste. Neste segundo andar de um beco desconhecido, porém, a tristeza não se estampou ainda nem nas coisas nem nas pessoas. Os olhos de Álvaro da Silveira, com oitenta e cinco anos a pesar-lhes em cima, são vivos como os de um jovem:
— Sinto-me completamente bem e é muito raro pôr os óculos. O médico dá,..me, ainda, quinze a vinte anos de vida.
É bom ouvir falar assim uma pessoa, naquela idade em que o comum dos mortais já perdeu a esperança. Mas Álvaro da Silveira trá-la consigo, aquece-se à sua chama, vive dela:
— De Verão, levanto-me às cinco, seis horas da madrugada e pego imediatamente no trabalho, que dura todo o dia, porque nunca me falta. Agora, com o frio, só saio da cama lá para as oito.
Mas quem é Álvaro da Silveira? Nascido no Funchal há 85 anos, dedica-se à actividade de construtor de guitarras e violas desde os onze anos. Foi ainda na sua terra natal que se iniciou na profissão, às ordens do mestre Augusto da Costa (que se especializara em Itália). Mas aos vinte e poucos já se encontrava em Lisboa: era encarregado de uma oficina na Rua da Boavista (a Casa Artur de Albuquerque, hoje designada Santos & Silva Vieira, Lda., onde, na altura, apenas se construíam instrumentos musicais).
É, hoje, um simpático ancião de cabelos brancos e convívio agradável.
OFICINA PRÓPRIA E LOJA DE VENDAS
— Saí de lá por minha livre vontade. Eu queria trabalhar, por minha conta e consegui-o. Tive, depois, uma oficina e uma loja de vendas no Bairro Alto, na Travessa dos Inglesinhos. Mas há quase treze anos que estou nesta casa, onde, praticamente, nem tenho espaço para me virar. Vocé sabe: as rendas caras, a vida difícil, a mulher doente.
Perguntamos-lhe se lembra de alguns nomes famosos para quem tenha trabalhado. Seus olhos adquirem um brilho invulgar, não isento de serenidade, e parecem perscrutar o passado:
— Todos os grandes mestres espanhóis de viola me deram a honra de ser meus clientes: Cano, que morreu há já cinquenta e oito anos e chegou a tocar para os reis D. Luís e D. Carlos; Rabel, que era um excelente professor; Sainz, etc. Dos guitarristas portugueses, recordo um em especial: Júlio Silva, que foi o maior de todos. Mas lembro também Carmo Dias, Salgado do Carmo, eu sei lá…
— As guitarras que constrói são de modelo vulgar ou têm alguma característica própria?
— O meu modelo é exclusivo, porque ninguém ainda o conseguiu imitar. Tenho o meu segredo. Uma guitarra custa, hoje em dia, à volta de três contos. (A esposa, que assiste à conversa, interrompe: «Eles bem desmancham os instrumentos que ele faz para descobrirem o segredo. Mas é impossível: foi ele próprio que fabricou as ferramentas com que os constrói»).
Álvaro da Silveira olha a rua lá fora, onde passam os eléctricos e onde um sol, hesitante ainda, põe um brilho estranho nas coisas. Olha a rua como quem olha a vida, como quem surpreende (ou procura descobrir) o futuro. O futuro? Sim, o futuro, apesar das suas palavras repassadas de uma serena angústia:
— Um dia destes, talvez, vou à procura do Asilo e dizem-me que não há vaga. E levei uma vida inteira a trabalhar...
— E nas horas vagas o que faz?
— Nas horas vagas? Olhe, eu não tenho horas vagas. Só aos domingos, no Verão, é que dou uns passeios: Vou nas excursões por esse País fora, mas só um dia de cada vez. Os clientes não me deixam mais. Gosto do ar dos campos, de respirar de pulmões abertos. Só não conheço o Algarve e uma parte do Minho. Mas hei-de lá ir qualquer dia...
RECORDAÇÕES E OPINIÕES
— Em tempos dei lições de guitarra. Afino toda a espécie de instrumentos de corda, mas construi-los é a minha paixão. A indústria perdeu importância, nos últimos tempos. Não há quem trabalhe nisto, só curiosos. As canções também não ajudam — são muito más, em geral. Há ainda as guitarras eléctricas, que não produzem música, produzem ruído. Aqui há cinquenta anos, as oficinas não, queriam receber aprendizes; hoje é o que se vê: não há oficiais. Mas fazer um instrumento é fácil: qualquer caixote, com um buraco e cordas, pode tocar. O difícil é fazer bons instrumentos.
— Trabalha sozinho?
— Podia ter dois ou três homens por minha conta, porque o trabalho que há dava para lhes pagar. Mas não tenho espaço nem existe quem saiba trabalhar (e sobretudo quem queira aprender). Dos construtores do meu tempo apenas eu ainda estou vivo.
Vem a propósito falar do Fado. Saber de um homem com quase um século o que pensa do fado dos nossos dias:
— Não me servem os fados modernos, que são meias-canções. O fado castiço, o velho Fado, são poucos os intérpretes que ainda o cultivam: a grande Hermínia, Maria Teresa de Noronha...
— E Amália?
— Gosto também, mas Amália, além do Fado, canta outras coisas que nada têm a ver com o Fado!
A chuva recomeçou lá fora. Álvaro da Silveira está emocionado (os olhos líquidos, pois então...), e o repórter despede-se. Não sem, antes, fazer uma promessa:
— Daqui a quinze anos cá estarei, quando o senhor fizer os cem, para o entrevistar outra vez.
Etiqueta usada para identificar o construtor
Imagem de voluta entalhada pelo Mestre Cid (Entalhador na Fundação Ricardo Espirito Santo) para uma guitarra construída pelo Mestre Álvaro da Silveira.
Esta guitarra tem adornos em prata e ouro branco e pertençe ao Musicólogo José Lúcio (conforme informação do mesmo no seu site)
Notas de curiosidade: Meu pai adquiriu uma guitarra construída pelo mestre Alvaro da Silveira, tem a forma dita de Coimbra e foi construída em 1926. Hoje em dia sou eu possuidor, deste belo instrumento, que infelizmente não sei tocar.
Anúncio Publicado no Jornal Canção do Sul em 1935
"Marcha do Marceneiro" instrumental" por Arménio de Melo
No fim da Idade Média, vulgarizou-se chamar-se “guitarra”, na Península Ibérica, a todo o instrumento de dedilhação, Provinha a palavra do étimo grego “Kitara”, que em latim tinha a grafia de” Chitara”, ou “Cítara”.
Mas o instrumento medieval mais usado para acompanhamento de canções era o “Alaúde”, que só apareceu na Europa para além dos Pirinéus, no século XIII, mas na Península Ibérica já era utilizado desde o século VIII.
Havia também um outro instrumento em forma de “8”, de uso mais popular e também denominada guitarra, ou mais precisamente “Guitarra Castelhana”, que em Espanha acabou com a utilização do “Alaúde”.
Em Portugal continua-se a utilizar o “Alaúde” mas agora denominado de “Guitarra”, em relação à “Guitarra Castelhana”, os portugueses passam a denominá-la de “Viola” do latim “Vitula” já que a sua forma se assemelha ao instrumento de concerto “Viola de Arco”.
Hoje fazemos referência à Guitarra Portuguesa, à Viola de Fado e à Guitarra Clássica (Espanhola)
Apenas em Portugal se mantém a parelha da Guitarra com a Viola para acompanhar o Fado.
Até ao século XVIII, o sistema de afinação das guitarras portuguesas era constituído por “cravelhas de madeira”, mais tarde (no tempo da Severa) aparece a “chapa metálica quadrangular”, cuja afinação se fazia com uma chavinha de relógio. No final de século XIX, toma a forma actual de leque, afinada por esticadores em parafuso, (no tempo da Cesária e da Maria Vitória) e que tem vindo a sofrer alterações até aos dias de hoje.
Era e é notório o amor tradicional dos portugueses pela sua guitarra.
Afirma-se que era tal a afeição pela guitarra pelos portugueses, que após a trágica jornada de Dom Sebastião em que o nosso Rei foi derrotado pelo Sultão de Fez de Marrocos, que entre os despojos do acampamento dos portugueses havia milhares de guitarras.
Também os nossos marinheiros levavam guitarras nas caravelas que singrava os mares à descoberta de Novos Mundos.
Foi na distância das terras longínquas que a saudade da Pátria e das afeições apartadas, que as trovas dos nautas portugueses ganharam novos ritmos e o Fado actual entrou em embrião