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Associação Cultural de Fado

"O Patriarca do Fado"
Sábado, 18 de Abril de 2015

Nossa Senhora da Saúde - Há Festa na Mouraria


Quadro do Mestre Real Bordalo da Igreja de Nossa Senhora da Saúde

 

 

IGREJA DE NOSSA SENHORA DA SAÚDE
A Ermida de Nossa Senhora da Saúde - melhor é classificá-la assim - situa­-se no Bairro da Mouraria, na Rua Martim Moniz, local antigamente situado fora de portas. Constituía um dos encantos populares religiosos de Lisboa do século passado e que perdurou até à República.
No início do século XVI (1506), . terá sido construída uma ermida dedicada a S. Sebastião, mártir romano do final do século III, cujo culto se estendeu rapidamente por todo o mundo cristão depois de proclamado patrono de Roma pelo Papa Gregório Magno (590-604), devido à epidemia que grassou naquela cidade por mais de trinta anos.
Em Portugal foi objecto de uma devoção muito viva, como advogado contra os males da peste, da fome e da guerra. Entre nós, a peste tinha feito centenas de vítimas em 1506, e a construção da igreja foi da iniciativa dos artilheiros (na altura, bombardeiros) da guarnição de Lisboa. Por Alvará de 27 de Maio de 1647, «foi determinado que a cada um dos condestáveis que assentassem praça para servir na India se tirassem 400 réis e aos artilheiros 200 réis para se refazer do necessário para o culto da Ermida de S. Sebastião», que lhes teria sido doada pela Rainha D. Catarina, viúva de D. João III.
Contínuas epidemias surgiram no Reino e uma muito grande que vitimou milhares de pessoas, no ano de 1569, chegou a fazer mais de 500 vítimas por dia, obrigando o Rei D. Sebastião e sua avó, a Rainha D. Catarina, a afastarem-se para Sintra.
O Rei D. Sebastião (nascido em Lisboa a 20 de Janeiro de 1554, no dia litúrgico de D. Sebastião) em 16 de Outubro de 1569 escreveu ao Senado de Lisboa no sentido de se proceder à edificação de um templo dedicado àquele santo, e por outra carta, datada de 28 de Dezembro do mesmo ano, autorizava que o templo fosse levantado no sítio da Mouraria, onde já se encontrava a ermida.
No ano de 1570, Lisboa foi de novo ameaçada por peste, e o próprio Senado dirige uma petição a D. Sebastião, que se encontrava em Salvaterra de Magos, para que se faça uma cerimónia religiosa com toda a solenidade, devoção e demonstração de reconhecimento a Nossa Senhora da Saúde, por a epidemia não ter progredido.
Em 20 de Abril de 1570, realiza-se a primeira procissão de Nossa Senhora da Saúde, cuja imagem se encontrava no oratório do Colégio dos Meninos Órfãos, formando-se então a respectiva Irmandade.
A imagem continuou no Oratório, fazendo-se todos os anos a procissão em data que caía na terceira quinta-feira de Abril, até 1908, ininterruptamente durante trezentos e trinta e dois anos.
Devido à proclamação da República, a procissão deixou de se efectuar durante trinta e dois anos, até que em 1940 se reatou a tradição, vindo a quebrar-se novamente de 1974 a 1981.
No início, o percurso era da Mouraria até ao Convento de S. Domingos, com regresso ao Colégio dos Meninos Órfãos. Em 1661, por desinteligência entre os administradores do Colégio dos Meninos Órfãos e a Irmandade de Nossa Senhora da Saúde, esta pensou construir capela própria.
Os artilheiros (bombardeiros) que possuíam a sua ermida votada a S. Sebastião, na Mouraria, ofereceram então guarida à Irmandade de Nossa Senhora da Saúde, que a aceitou, com a condição de a ermida passar a chamar-se de Nossa Senhora da Saúde e de a imagem ficar colocada no altar principal. As duas Irmandade fundiram-se depois numa única - a Associação da Senhora da Saúde e de S. Sebastião - aprovada
pelo Papa Alexandre VII, e em 20 de Abril de 1662 a imagem da Senhora da Saúde, após a procissão, entrou definitivamente na sua casa da Mouraria.
A ermida de Nossa Senhora da Saúde teve a protecção, não só de reis, rainhas e príncipes, mas também de fidalgos, militares e beneméritos.
D. Pedro V, em 1861, elevou a ermida à dignidade de Capela Real. A Condessa d'Elba, viúva do Rei D. Fernando II, criou, em 20 de Maio de 1871 a Real Irmandade de Santo António Lisbonense, erguida na Real Capela de N." S.a da Saúde.

                             

      (1)     (2)    

(1) Vista da Procissão da Senhora da Saúde em desfile na Rua da Madalena

(2) O andor com a imagem de Nossa Senhora da Saúde

 

Alfredo Marceneiro

Canta: Senhora da Saúde - Há Festa na Mouraria

 

 

 

 Senhora da Saúde - HÁ FESTA NA MOURARIA

 

Repertório de Alfredo Marceneiro

 

Poema: António Amargo  -  Música: Alfredo Marceneiro

 

 

 

Há festa na Mouraria,
É dia da procissão
Da Senhora da Saúde.
Até a Rosa Maria,
Da Rua do Capelão,
Parece que tem virtude.

 

 

 

Colchas ricas nas janelas,
Pétalas soltas no chão,
Almas crentes, povo rude.
Anda a fé pelas vielas,
É dia da procissão
Da Senhora da Saúde.

 

 

 

Após um curto rumor,
Profundo silêncio pesa,
Por sobre o Largo da Guia.
Passa a Virgem no andor,
Tudo se ajoelha e reza,
Até a Rosa Maria.

 

 

 

Como que petrificada,
Em fervorosa oração,
É tal a sua atitude,
Que a rosa já desfolhada,
Da Rua do Capelão,
Parece que tem virtude.

 

 
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Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional, assim como registo na Sociedade Portuguesa de Autores, sócio nº 125820, e Alfredo Marceneiro é registado como marca nacional no INIP, n.º 495150.
música: Senhora da Saúde
Viva Lisboa: Velhas Tradições Bairristas
publicado por Vítor Marceneiro às 00:00
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Terça-feira, 22 de Abril de 2014

HÁ FESTA NA MOURARIA- Um título.. Dois Autores

 

 

Quadro do Mestre Real Bordalo - Arco do Alegrete e Palácio do Marquês do Alegrete - Portas da Mouraria

 

A quem estiver nteressado, vou tentar resolver a “confusão” que existe à volta do Fado:

«HÁ FESTA NA MOURARIA».

 

Nos meados dos anos 20 do século passado, Gabriel de Oliveira -   O Poeta Marujo – escreve uma letra de fado com o título:  SENHORA DA SAÚDE, que dá em primeira mão a Alfredo Marceneiro, para o seu repertório, que este,  a canta com a música “A Marcha do Marceneiro” , como ele próprio o afirmou.

 

SENHORA DA SAÚDE

 

Poema: Gabriel de Oliveira

Música: Alfredo Marceneiro

 

Há festa na Mouraria,
É dia da procissão
Da Senhora da Saúde.
Até a Rosa Maria,
Da Rua do Capelão,
Parece que tem virtude.

 

                                            Naquele bairro fadista,

                                            Calaram-se as guitarradas.

                                            Não se canta nesse dia;

                                            Velha tradição bairrista:

                                            Vibram no ar badaladas

                                             Há festa na Mouraria

 

Colchas ricas nas janelas,
Pétalas soltas no chão,
Almas crentes, povo rude.
Anda a fé pelas vielas,
É dia da procissão
Da Senhora da Saúde.

 

                                             Após um curto rumor,
                                             Profundo silêncio pesa,
                                             Por sobre o Largo da Guia.
                                             Passa a Virgem no andor,
                                             Tudo se ajoelha e reza,
                                             Até a Rosa Maria.

 

Como que petrificada,
Em fervorosa oração,
É tal a sua atitude,
Que a rosa já desfolhada,
Da Rua do Capelão,
Parece que tem virtude.

 

 

 

Amália canta  e grava a que a versão a que dão o título,  Há Festa na Mouraria, em vez de Senhora da Saúde, que esta sim, são de versos de Gabriel de Oliveira, também  na música da Marcha de Alfredo Marceneiro.

Mais fadistas o começam a cantar, mas como Gabriel de Oliveira, não se faz sócio da Sociedade de Autores, consequentemente não há registo, pelo que o título passa a ser por desconhecimento dos actuantes, alterado, (fenómeno que ainda hoje acontece, quer com  poemas quer com  músicas), e passa a ser conhecido por “Há Festa na Mouraria” Em 1933 Alberto Costa canta este tema todas as noites, no Teatro Maria Victória, onde obtém grande êxito.

No final dos anos vinte do século passado é registado na Sociedade de Autores um poema com o título de Há Festa na Mouraria, um glosamento da primeira sextilha da versão de Gabriel de Oliveira, da autoria de António Correia Pinto de Almeida, que usa o pseudónimo de António Amargo, amigo de Gabriel Araújo, que também ofereceu a Alfredo Marceneiro, para o seu repertório, propondo a música para sextilhas,  da autoria de Jose Marques (Piscalarete) (autor do Fado triplicado), mas que Marceneiro decide gravar na sua marcha.

 

 

HÁ FESTA NA MOURARIA

 

 

Letra de: António Amargo

Música de Alfredo Marceneiro

 

                                         Desde manhã os fadistas

                                         Jaquetão calça esticada

                                         Se aprumam com galhardia

                                         Seguem as praxes bairristas

                                         É data santificada

                                         Há festa na Mouraria

 

Toda aquela que se preza

De fumar falar calão

Pôr em praça a juventude

Nessa manhã chora e reza

É dia da procissão

Da Senhora da Saúde

 

                                         Nas vielas do pecado

                                         Reina a paz tranquila e santa

                                         Vive uma doce alegria

                                         À noite é noite de fado

                                         Tudo toca tudo canta

                                         Até a Rosa Maria

 

A chorar de arrependida

A cantar com devoção

Numa voz fadista e rude

E aquela Rosa perdida

Da Rua do Capelão

Parece que tem virtude

 

Nos anos sessenta a editora “Valentim de Carvalho” produz o LP “Há Festa na Mouraria” em que Alfredo Marceneiro grava o poema, da autoria de António Amargo, porque embora ele fosse o criador  da versão de Gabriel de Oliveira, como já se explicou, esta já tinha sido gravada por Amália Rodrigues e outros, e Marceneiro não quer gravar o que os outros já gravaram.

Em 1995 no meu livro mono-biográfico Recordar Alfredo Marceneiro, o poema que transcrevo é o tema de António Amargo, que ele na realidade gravou.

Acontece que há registos, em que se canta os versos de Gabriel de Oliveira, e que os créditos são dados a António Amargo!, e vice-versa

Posso afirmar com bastante credibilidade, que António Amargo, em nada contribuiu  para esta confusão, a razão principal, tem a ver  com de Gabriel de Oliveira, que  não ter registado a sua versão.

António Amargo, foi poeta e escritor, faleceu em 1933, é de salientar que era muito, quer de Gabriel de Oliveira, não existiu nenhuma quezília entre eles, e foi também amigo de Alfredo Marceneiro.

 

 

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