Quadro do Mestre Real Bordalo da Igreja de Nossa Senhora da Saúde
(1) Vista da Procissão da Senhora da Saúde em desfile na Rua da Madalena
(2) O andor com a imagem de Nossa Senhora da Saúde
Alfredo Marceneiro
Canta: Senhora da Saúde - Há Festa na Mouraria
Senhora da Saúde - HÁ FESTA NA MOURARIA
Quadro do Mestre Real Bordalo - Arco do Alegrete e Palácio do Marquês do Alegrete - Portas da Mouraria
A quem estiver nteressado, vou tentar resolver a “confusão” que existe à volta do Fado:
«HÁ FESTA NA MOURARIA».
Nos meados dos anos 20 do século passado, Gabriel de Oliveira - O Poeta Marujo – escreve uma letra de fado com o título: SENHORA DA SAÚDE, que dá em primeira mão a Alfredo Marceneiro, para o seu repertório, que este, a canta com a música “A Marcha do Marceneiro” , como ele próprio o afirmou.
SENHORA DA SAÚDE
Poema: Gabriel de Oliveira
Música: Alfredo Marceneiro
Há festa na Mouraria,
É dia da procissão
Da Senhora da Saúde.
Até a Rosa Maria,
Da Rua do Capelão,
Parece que tem virtude.
Naquele bairro fadista,
Calaram-se as guitarradas.
Não se canta nesse dia;
Velha tradição bairrista:
Vibram no ar badaladas
Há festa na Mouraria
Colchas ricas nas janelas,
Pétalas soltas no chão,
Almas crentes, povo rude.
Anda a fé pelas vielas,
É dia da procissão
Da Senhora da Saúde.
Após um curto rumor,
Profundo silêncio pesa,
Por sobre o Largo da Guia.
Passa a Virgem no andor,
Tudo se ajoelha e reza,
Até a Rosa Maria.
Como que petrificada,
Em fervorosa oração,
É tal a sua atitude,
Que a rosa já desfolhada,
Da Rua do Capelão,
Parece que tem virtude.
Amália canta e grava a que a versão a que dão o título, Há Festa na Mouraria, em vez de Senhora da Saúde, que esta sim, são de versos de Gabriel de Oliveira, também na música da Marcha de Alfredo Marceneiro.
Mais fadistas o começam a cantar, mas como Gabriel de Oliveira, não se faz sócio da Sociedade de Autores, consequentemente não há registo, pelo que o título passa a ser por desconhecimento dos actuantes, alterado, (fenómeno que ainda hoje acontece, quer com poemas quer com músicas), e passa a ser conhecido por “Há Festa na Mouraria” Em 1933 Alberto Costa canta este tema todas as noites, no Teatro Maria Victória, onde obtém grande êxito.
No final dos anos vinte do século passado é registado na Sociedade de Autores um poema com o título de Há Festa na Mouraria, um glosamento da primeira sextilha da versão de Gabriel de Oliveira, da autoria de António Correia Pinto de Almeida, que usa o pseudónimo de António Amargo, amigo de Gabriel Araújo, que também ofereceu a Alfredo Marceneiro, para o seu repertório, propondo a música para sextilhas, da autoria de Jose Marques (Piscalarete) (autor do Fado triplicado), mas que Marceneiro decide gravar na sua marcha.
HÁ FESTA NA MOURARIA
Letra de: António Amargo
Música de Alfredo Marceneiro
Desde manhã os fadistas
Jaquetão calça esticada
Se aprumam com galhardia
Seguem as praxes bairristas
É data santificada
Há festa na Mouraria
Toda aquela que se preza
De fumar falar calão
Pôr em praça a juventude
Nessa manhã chora e reza
É dia da procissão
Da Senhora da Saúde
Nas vielas do pecado
Reina a paz tranquila e santa
Vive uma doce alegria
À noite é noite de fado
Tudo toca tudo canta
Até a Rosa Maria
A chorar de arrependida
A cantar com devoção
Numa voz fadista e rude
E aquela Rosa perdida
Da Rua do Capelão
Parece que tem virtude
Nos anos sessenta a editora “Valentim de Carvalho” produz o LP “Há Festa na Mouraria” em que Alfredo Marceneiro grava o poema, da autoria de António Amargo, porque embora ele fosse o criador da versão de Gabriel de Oliveira, como já se explicou, esta já tinha sido gravada por Amália Rodrigues e outros, e Marceneiro não quer gravar o que os outros já gravaram.
Em 1995 no meu livro mono-biográfico Recordar Alfredo Marceneiro, o poema que transcrevo é o tema de António Amargo, que ele na realidade gravou.
Acontece que há registos, em que se canta os versos de Gabriel de Oliveira, e que os créditos são dados a António Amargo!, e vice-versa
Posso afirmar com bastante credibilidade, que António Amargo, em nada contribuiu para esta confusão, a razão principal, tem a ver com de Gabriel de Oliveira, que não ter registado a sua versão.
António Amargo, foi poeta e escritor, faleceu em 1933, é de salientar que era muito, quer de Gabriel de Oliveira, não existiu nenhuma quezília entre eles, e foi também amigo de Alfredo Marceneiro.