“David Mourão-Ferreira e o Fado”
De 18 de Maio a 30 de Setembro, está patente no Museu do Fado, uma exposição alusiva à multifacetada figura de David Mourão-Ferreira (1927-1996) poeta, ensaísta, ficcionista, jornalista, professor e tradutor. “David Mourão-Ferreira e o Fado” retrata o importante legado do autor na história da canção de Lisboa.
“David Mourão-Ferreira e o Fado” ilustra um dos momentos mais marcantes na evolução da canção de Lisboa, através da fusão da poesia erudita com o universo fadista, para a qual também contribuíram as carismáticas figuras de José Régio, Pedro Homem de Mello, Luís de Macedo, Alexandre O´Neil, Cecília Meireles, José Carlos Ary dos Santos, Manuel Alegre, entre outros.
Exposição muito bem elaborada, a não deixar de vistar, quer pelo aspecto técnico, quer pelo acervo iconográfico relativo a David Mourão-Ferreira.
O FADO E A PALAVRA
MARCENEIRO E PESSOA
Ao grande Alfredo Marceneiro - professor de sucessivas gerações de fadistas e alvo (tal como Hermínia Silva) de entusiasmada admiração da parte de Amália - deve-se a repetida afirmação da importância de defender a palavra.
No disco recentemente editado "Marceneiro é só Fado", podemos ouvir fragmentos do seu discurso directo:"a dicção também vale muito; agora quem quebrou melhor o verso e que deu expressão ao verso eram todos; mas eu tinha uma forma especial (.. .)porque o meu forte não foi só cantar; foi dividir a oração"
Dizia um contemporâneo de Marceneiro (1891-1982), Fernando Pessoa (1988-1935), evocado por Carlos Tê no trecho "Fado Pessoano":
"Toda a poesia - e a canção é uma poesia ajudada - reflecte o que a alma não tem. Por isso, a canção dos povos tristes é alegre e a canção dos povos alegres é triste. O fado, porém, não é alegre nem triste. É um episódio de intervalo. Formou-o a alma portuguesa quando não existia e desejava tudo sem ter força para o desejar. (...)
O fado é o cansaço da alma forte, o olhar de desprezo de Portugal ao Deus em que creu e também o abandonou”.
In: Primavera David Mourão-Ferreira (pág. 22)
Letra de: David Mourão Ferreira
É varina, usa chinela,
Tem movimentos de gata.
Na canastra a caravela;
No coração, a fragata
Em vez de corvos, no chaile
Gaivotas vêm pousar,
Quando o vento a leva ao baile,
Baila no baile com o mar!
É de conchas, o vestido,
Tem algas na cabeleira
E, nas veias, o latido
Do motor duma traineira!
Vende sonho e maresia
Tempestades apregoa;
Seu nome próprio: Maria;
Seu apelido: Lisboa!