Maria Ivone Silva Nunes, nasceu em 1935 em Paio Mendes, perto de Ferreira do Zêzere, faleceu em Lisboa em 1987.
Estreou-se no ABC, em 1963 na “Revista Vamos à Festa” contratado pelo empresário José Miguel, o espectáculo agradou e, em Setembro, a mesma equipa produziu a “Revista Chapéu Alto”, já então Ivone aparecia como cabeça de cartaz.
O público, com o seu julgamento implacável, elevou Ivone Silva, passou a reinar sobre o Parque Mayer, deslocando-se apenas do ABC para o Maria Vitória e do Maria Vitória para o ABC, como quem reconhece os seus domínios, sem temer confronto. A sua carreira é segura, sem solavancos, sendo rara a revista em que não consegue uma boa actuação. E nunca fez menos de duas revistas por ano.
Com o seu sorriso aberto, os olhos saltitantes, mal Ivone entra em cena o público sabe logo que vai chegar o melhor momento. E ela, ou ri alegremente ou barafusta, gesticula, atravessa o palco de uma ponta a outra, falando com incrível rapidez. Tão bem caricatura a elegância afectada da Senhora de bem-fazer em (Lábios pintados, 1964), como a burguesa dona de casa, nas suas aflições diárias, em números do fôlego de (Diário de Uma Louca), (Sete Colinas, 1967) ou (Angústia para o jantar), (O Bombo da Festa, 1976).
Os pequenos cantores de Viana do Castelo em (Mini-saias, 1966) ficou como o tipo de rábula em que Ivone Silva consegue grande brilho. Talvez por isso os autores lhe escrevem, às vezes, textos demasiado pretensiosos, como A operário da fábrica das lâmpadas em (Pronto a despir, 1972) ou A Guerra Santa em (P´ra trás mija a burra, 1975), que em nada a beneficiam. Porque o que dá mesmo gozo é vê-la imitar Amália Rodrigues, recém-chegada da Rússia e só a pensar "no dela" (Ena, já fala, 1969), ou a “fellineana" Corista de outros tempos, cole ante e com uma patética reforma em (O Zé aperta o cinto, 1971).
No pós 25 de Abril, Ivone compôs, com imensa graça, a chique Madame Salreta, socialista de recente data em (O Bomba da Festa, 1976) e a inquieta alívio-alívio, empregada-patroa, posta ante o dilema terrível de se sanear a si própria em (P´ra trás mija a burra, 1975).
In Revista à Portuguesa de Vítor Pavão dos Santos
TEATRO DE REVISTA
Foi em Paris pelos finais do séc. XVIII que começou a fazer furor um novo género de espectáculo chamado "revue de fin d’année", um conjunto de quadros desligados em que se misturava o canto, a dança e a declamação com a finalidade de passar "em revista" e criticar os acontecimentos mais marcantes de cada ano que findava.
A Portugal, a revista chegou a meio do séc. XIX, foi em Lisboa em 1850 a apresentação da primeira revista à portuguesa, e o público português logo a consagrou como o mais popular dos géneros teatrais, habituando-se pelos anos fora a rir ás gargalhadas, com os trocadilhos e a piscadela de olho dos seus cómicos, a admirar a alegre desenvoltura das suas vedetas, a trautear as cantigas lançadas dos seus palcos, e onde obviamente o Fado teve os seus momentos de glória.
Ao evocarmos Ivone Silva, que faz este ano 20 anos que nos deixou, fazemo-lo por mérito seu, mas homenageamos em simultâneo todos os que contribuíram para os sucessos do Teatro de Revista em Portugal
O Fado lembra Ivone Silva
Foi empregada e patroa
Foi p’rós copos com o Camilo
Vocês lembram-se daquilo
Vestia um vestido preto
E eu acho que comprometo
O fado o povo e os artistas
Ao recordar as revistas
Em que a revista foi sua
Em que a arte foi ciclone
A graça foi mais brejeira
À maneira da maneira
Da nossa querida Ivone
por: Carlos Escobar
IVONE SILVA
Maria Ivone Silva Nunes, nasceu em 1935 em Paio Mendes, perto de Ferreira do Zêzere, faleceu em Lisboa em 1987.
Estreou-se no ABC, em 1963 na “Revista Vamos à Festa” contratado pelo empresário José Miguel, o espectáculo agradou e, em Setembro, a mesma equipa produziu a “Revista Chapéu Alto”, já então Ivone aparecia como cabeça de cartaz.
O público, com o seu julgamento implacável, elevou Ivone Silva, passou a reinar sobre o Parque Mayer, deslocando-se apenas do ABC para o Maria Vitória e do Maria Vitória para o ABC, como quem reconhece os seus domínios, sem temer confronto. A sua carreira é segura, sem solavancos, sendo rara a revista em que não consegue uma boa actuação. E nunca fez menos de duas revistas por ano.
Com o seu sorriso aberto, os olhos saltitantes, mal Ivone entra em cena o público sabe logo que vai chegar o melhor momento. E ela, ou ri alegremente ou barafusta, gesticula, atravessa o palco de uma ponta a outra, falando com incrível rapidez. Tão bem caricatura a elegância afectada da Senhora de bem-fazer em (Lábios pintados, 1964), como a burguesa dona de casa, nas suas aflições diárias, em números do fôlego de (Diário de Uma Louca), (Sete Colinas, 1967) ou (Angústia para o jantar), (O Bombo da Festa, 1976).
Os pequenos cantores de Viana do Castelo em (Mini-saias, 1966) ficou como o tipo de rábula em que Ivone Silva consegue grande brilho. Talvez por isso os autores lhe escrevem, às vezes, textos demasiado pretensiosos, como A operário da fábrica das lâmpadas em (Pronto a despir, 1972) ou A Guerra Santa em (P´ra trás mija a burra, 1975), que em nada a beneficiam. Porque o que dá mesmo gozo é vê-la imitar Amália Rodrigues, recém-chegada da Rússia e só a pensar "no dela" (Ena, já fala, 1969), ou a “fellineana" Corista de outros tempos, cole ante e com uma patética reforma em (O Zé aperta o cinto, 1971).
No pós 25 de Abril, Ivone compôs, com imensa graça, a chique Madame Salreta, socialista de recente data em (O Bomba da Festa, 1976) e a inquieta alívio-alívio, empregada-patroa, posta ante o dilema terrível de se sanear a si própria em (P´ra trás mija a burra, 1975).
In Revista à Portuguesa de Vítor Pavão dos Santos