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Associação Cultural de Fado

"O Patriarca do Fado"
Sábado, 21 de Maio de 2016

JOÃO MARIA DOS ANJOS - Fadista da Velha Guarda

Nasceu no fim do Século XIX em Lisboa no bairro de Alcântara (1891-1956).

Era a época do «Fado das Hortas». Lisboa divertia-se nesses sítios, com vinhos e petiscos e fados em mote e glosas. Nos Salões mais nobres, nos pátios e adegas típicas, nas esperas de gado, as cantigas à guitarra soavam em grandes despiques. Era a áurea de Júlia Mendes e Maria Vitória, das feiras de Agosto e das Touradas reais.

Pois foi nesta época que João Maria dos Anjos acompanhou o Fado, sendo um dos cantadores mais aplaudidos, fez parte dessa plêiade de genuínos a que pertenceram José Bacalhau, João Junça, Joaquim Real, João Espanta, José Peres e outros, na companhia dos quais começou a cantar o Fado nos antigos retiros do João da Ermida, Tia Iria e José dos Pacatos, e, depois, no Ferro de Engomar, Pedralvas, Charquinho, Caliça, Perna de Pau, António da Rosa e Quinta da Montanha.

Cantou também nos teatros Luís de Camões, Étoile, Trinas, Salão dos Anjos, Moderno e Coliseu da Rua da Palma, e mais tarde no Coliseu dos Recreios, S. Luiz, Eden, Apolo e Gimnásio.   

Num concurso, de Fados, em que concorreram muitos fadistas de nomeada na época, ganhou a medalha de oiro.

Possuía também o dom de ser poeta, compunha versos que passou também a cantar, bem compostos e com rimas muito bem improvisadas.  

Era um fadista da «Velha Guarda».  

Sim, um fadista da «Velha Guarda». Nasceu nos fins do Século XIX, que foi considerado, o tempo do «Fado das Hortas. Lisboa divertia-se nesses sítios endémicos de evasão, com vinhos e petiscos e Fados em mote e glosas. Nos Salões mais nobres, nos pátios e adegas típicas, nas esperas de gado, as cantigas à guitarra soavam em grandes despiques. Era a nos tempos áureos da  Júlia Mendes e Maria Vitória, das feiras de Agosto e das Touradas reais. 

Pois foi por essa época que João Maria dos Anjos veio acompanhando o fado, sendo cantador dos mais distintos. Entrou num concurso, e ganhou o primeiro prémio, a medalha de oiro.  

Também possuía o dom de ser poeta,  compunha os versos que entoava, com aquela voz arrastada e ritmada, de que só os eleitos conseguem. 

Foi no tempo do Fado no reinado de D. Carlos – quando o Hilário vinha de Coimbra a Lisboa, para saudar João de Deus!...  

Fado do tempo da efervescência romântica e republicana — com Guerra Junqueiro a escrever «A Pátria», Ângela Pinto a viver «A Severa», Adelina Abranches a «Rosa Enjeitada», Malhoa a pintar «S. Martinho» e o seu «Fado»!.,.

Fado do tempo da Grande Guerra — o Soldado Desconhecido sepultado nas lajes do Mosteiro da Batalha e Estêvão Amarante a cantar o «ganga> e o «Trinta e Um». 

O povo tomava conta dessas cantigas todas. Os cegos andavam de rua em rua a divulgar em panfletos estes temas.

João Maria dos Anjos passou por isto tudo, foram 65 anos de vida fadista.   

Ainda hoje é com melancolia que se faz esta evocação.    

Fado de outros tempos! Fado, saudoso de outras eras.

Ó fado que foste fado!

João Maria dos Anjos, e tantos outros que como ele  souberam dignificar e prestigiar o verdadeiro Fado, já partiram à muito. Perderam-se  essas figuras da boémia sadia dos velhos tempos, em que a camaradagem pairava acima das conveniências, enquanto o valor dominava a questão dos interesses e até a fúria da publicidade. 

Pobre “Velha Guarda”  Que ao menos o vosso  passado, honrado e  digno, pudesse servir de estímulo, de exemplo e de encorajamento, para alguns fadistas da moderna geração, desses raros fadistas que ainda não se subverteram nem vincaram na onda alta que se desfaz na espuma das vaidades, nem no brilho balofo e efémero dos triunfos passageiros.  

 

© Vítor Duarte Marceneiro

Licença Creative Commons
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional, assim como registo na Sociedade Portuguesa de Autores, sócio nº 125820, e Alfredo Marceneiro é registado como marca nacional no INIP, n.º 495150.
Viva Lisboa: Fadistas da Velha Guarda
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Domingo, 18 de Novembro de 2007

JOÃO MARIA DOS ANJOS

JOÃO MARIA DOS ANJOS

Nasceu no fim do Século XIX em Lisboa no bairro de Alcântara (1891-1956).

Era a época do «Fado das Hortas». Lisboa divertia-se nesses sítios, com vinhos e petiscos e fados em mote e glosas. Nos Salões mais nobres, nos pátios e adegas típicas, nas esperas de gado, as cantigas à guitarra soavam em grandes despiques. Era a áurea de Júlia Mendes e Maria Vitória, das feiras de Agosto e das Touradas reais.

Pois foi nesta época que João Maria dos Anjos acompanhou o Fado, sendo um dos cantadores mais aplaudidos, fez parte dessa plêiade de genuínos a que pertenceram José Bacalhau, João Junça, Joaquim Real, João Espanta, José Peres e outros, na companhia dos quais começou a cantar o Fado nos antigos retiros do João da Ermida, Tia Iria e José dos Pacatos, e, depois, no Ferro de Engomar, Pedralvas, Charquinho, Caliça, Perna de Pau, António da Rosa e Quinta da Montanha.

Cantou também nos teatros Luís de Camões, Étoile, Trinas, Salão dos Anjos, Moderno e Coliseu da Rua da Palma, e mais tarde no Coliseu dos Recreios, S. Luiz, Eden, Apolo e Gimnásio.

Num concurso, ganhou uma medalha de oiro.

Possuía também o dom de ser poeta, compunha versos que passou também a cantar, bem compostos e com rimas muito bem improvisadas.

 Era um fadista da «Velha Guarda».

© Vítor Duarte Marceneiro

  

Mote

 

Esta luta atroz, constante

P'rás nossas vidas ligar,

Consome o tempo bastante

Que a vida pode durar.

 

Glosas

 

Não creio no impossível,

Mas reparei num instante,

Que para nós é horrível

Esta luta atroz, constante.

           

Bem sei que o nosso desejo

Não se pode efectivar,

Na paz suprema dum beijo

P'rás nossas vidas ligar.

 

Nosso amor sofre com calma,

E a paixão agonizante

A definhar-nos a alma

Consome o tempo bastante.

 

Surgem depois os tributos,

Que ambos temos de pagar,

Nos derradeiros minutos

Que a vida rode durar.

  

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Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional, assim como registo na Sociedade Portuguesa de Autores, sócio nº 125820, e Alfredo Marceneiro é registado como marca nacional no INIP, n.º 495150.
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