Mais uma colaboração de um pintor (que canta Lisboa pintando), ao ver um catálogo de uma exposição de Jorge Bandeira, pedi-lhe autorização para usar alguns dos seus quadros no blog, que desde logo aceitou.
Concordarão comigo que é uma mais valia para os nossos conhecimentos, para homenagear a nossa Lisboa, e acima de tudo mostrar (que é o que eu sinto) que o Fado abrange todo o Universo da Portucalidade ....FADO é VIDA, é DESTINO....
O FADO ESTÁ EM TODAS AS EXPRESSÕES DE ARTE DOS PORTUGUESES.
Nasceu em Lisboa, a 1 de Agosto de 1953.
Licenciado em Arquitectura, pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, 1989.
Frequentou a licenciatura em História de Arte na Universidade Aberta de Lisboa.
Frequentou o curso de Pintura da Sociedade Nacional de Belas Artes
Professor de Educação Visual, Educação Tecnológica, Oficinas de Artes e
Geometria Descritiva desde 1993.
Participou em inúmeras exposições colectivas e individuais destacando-se :
- ARTEXPO - Feira Internacional de Arte Contemporânea,
Barcelona.
- Exposição de Arte Mundo Seguro, Associação Portuguesa de
Seguradoras, PARQUE DAS NAÇÕES – LISBOA.
- Na Galeria CJ2 , em Lisboa.
- Na Galeria HEXALFA ,”O olhar do Maltês”, Lisboa.
- 11ª Exposição Internacional de Torres Novas.
- Na Galeria HEXALFA , Autumn Projects ”, Lisboa.
- Galeria ARTUR BUAL “Problemas do Planeta”, Amadora.
- Galeria GALVEIAS, Lisboa.
- Galeria Ayala , Óbidos.
- Fórum Telecom., Situ +acções”, Lisboa.
- Galeria Orlando Morais, Ericeira.
- Participação no programa de Televisão Divercidades ”
Pintando ao vivo, RTP internacional
- Galeria Grupama , Lisboa.
- Galeria da Caixa de Crédito Agrícola, Lisboa
Esta representado em diversas colecções no País e no Estrangeiro.
e-mail: jorgebandeira@netcabo.pt
www.jorgebandeira.no.sapo.pt
Fernando Pessoa pintado por Jorge Bandeira
ACORDAR DA CIDADE DE LISBOA
Poema de: Fernando Pessoa
Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras,
Acordar da rua do Ouro,
Acordar do Rossio, às portas dos cafés,
Acordar
E no meio de tudo a gare, que nunca dorme,
Como um coração que tem que pulsar através da vigília e do sono.
Toda a manhã que raia, raia sempre no mesmo lugar,
Não há manhãs sobre cidades, ou manhãs sobre o campo.
Á hora em que o dia raia, em que a luz estremece a erguer-se
Todos os lugares são o mesmo lugar, todas as terras são a mesma,
E é eterna e de todos os lugares a frescura que sobe por tudo
Uma espiritualidade feita com a nossa própria carne,
Um alívio de viver de que o nosso corpo partilha,
Um entusiasmo por o dia que vai vir, uma alegria por o que pode acontecer de bom,
São os sentimentos que nascem de estar olhando para a madrugada,
Seja ela a leve senhora dos cumes dos montes,
Seja ela a invasora lenta das ruas das cidades que vão leste-oeste,
Seja.
A mulher que chora baixinho
Entre o ruído da multidão em vivas...
O vendedor de ruas, que tem um pregão esquisito,
Cheio de individualidade para quem repara...
O arcanjo isolado, escultura numa catedral,
Siringe fugindo aos braços estendidas de Pan,
Tudo isto tende para o mesmo centro,
Busca encontrar-se e fundir-se
Na minha alma.
Eu adoro todas as coisas
E o meu coração é um albergue aberto toda a noite.
Tenho pela vida um interesse ávido
Que busca compreendê-la sentindo-a muito.
Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo,
Aos homens e às pedras, às almas e às máquinas,
Para aumentar com isso a minha personalidade.
Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio
E a minha ambição era trazer o universo ao colo
Como uma criança a quem a ama beija.
Eu amo todas as coisas, umas mais do que as outras,
Não nenhuma mais do que outra, mas sempre mais as que estou vendo
Do que as que vi ou verei.
Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações.
A vida é uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos.
Penso nisto, enterneço-me mas não sossego nunca.
E de novo, Lisboa
Poema de: Alexandre O´Neill
E de novo, Lisboa, te remancho,
numa deriva de quem tudo olha
de viés: esvaído, o boi no gancho,
ou o outro vermelho que te molha.
Sangue na serradura ou na calçada,
que mais faz se é de homem ou de boi?
O sangue é sempre uma papoila errada,
cerceado do coração que foi.
Groselha, na esplanada, bebe a velha,
e um cartaz, da parede, nos convida
a dar o sangue. Franzo a sobrancelha:
dizem que o sangue é vida; mas que vida?
Que fazemos, Lisboa, os dois, aqui,
na terra onde nasceste e eu nasci?
Camões - Pintura de Jorge Bandeira
Chafariz da Junqueira - Quadro de Jorge Bandeira
Lisboa perto e longe
Poema de: Manuel Alegre
Lisboa chora dentro de Lisboa
Lisboa tem palácios sentinelas.
E fecham-se janelas quando voa
nas praças de Lisboa -- branca e rota
a blusa de seu povo -- essa gaivota.
Lisboa tem casernas catedrais
museus cadeias donos muito velhos
palavras de joelhos tribunais.
Parada sobre o cais olhando as águas
Lisboa é triste assim cheia de mágoas.
Lisboa tem o sol crucificado
nas armas que em Lisboa estão voltadas
contra as mãos desarmadas -- povo armado
de vento revoltado violas astros
-- meu povo que ninguém verá de rastos.
Lisboa tem o Tejo tem veleiros
e dentro das prisões tem velas rios
dentro das mãos navios prisioneiros
ai olhos marinheiros -- mar aberto
-- com Lisboa tão longe em Lisboa tão perto.
Lisboa é uma palavra dolorosa
Lisboa são seis letras proibidas
seis gaivotas feridas rosa a rosa
Lisboa a desditosa desfolhada
palavra por palavra espada a espada.