O investigador José Alberto Sardinha defende a origem portuguesa do fado, e não brasileira, num livro a apresentar na segunda-feira, dia 17 de Maio, em Lisboa, no Tartro Trindade pelas 18,30 horas. "O fado nasceu em Portugal a partir de um substrato comum a todo o território nacional que é o romanceiro tradicional. É este canto narrativo que dá origem ao fado", defendeu o autor em declarações à Lusa. O livro "A Origem do Fado", agora editado, é o resultado de uma investigação de 22 anos. José Alberto Sardinha realçou que "antes de ser um género musical, o fado é um texto poético, um poema narrativo", e situa a sua origem no século XVI. "Ainda hoje os fadistas afirmam que o fado tem de contar uma história, e essa é a origem nacional do fado: contar uma história que emocionasse primeiro o fadista e, através deste, a audiência", sustentou. "Na verdade, a origem do fado está naquilo que nós chamamos pejorativamente o 'fado da desgraçadinha' ou o 'fado de faca e alguidar'. Esse é que é o fado primitivo, a origem do fado", argumentou. Para o investigador, as origens do fado "situar-se-ão no século XVI quando se dá a passagem do romanceiro histórico para o romanceiro novalesco, como já Carolina Michaëlis o tinha referenciado sem fundamentar", disse. A tese defendida por José Alberto Sardinha contraria a vigente de que o fado tem origem no lundum e numa dança brasileira, a umbigada. "Ninguém até agora explicou porque chamavam fado àquela dança, e umbigadas há em várias partes", referiu. Sardinha reconhece que a sua tese poderá "parecer estranha" e que é "audaciosa porque é inovadora", mas garante que "está devidamente fundamentada, é coerente, lógica e tem sequência. Tal como está demonstrado, tudo encaixa". "Eu comparo o fado que é uma tradição oral com a restante tradição oral portuguesa e não vou buscar origens a outras partes", acrescentou. Na obra, o autor referencia a evolução desde o século XVI até às "canções narrativas do século XVIII" e destas ao fado, como é citado no século XIX, quando surgiu a Severa e até o rei D. Carlos o tocava. As primeiras notícias conhecidas são do começo do século XIX e surgem do Brasil.
Gravura de uma ilustração publicada em 1904 - Festejos de Santo António em Lisboa
Em Portugal "há uma noticiazinha na década de 1830 e a partir de 1840, mas uma investigação mais aturada na Torre do Tombo dará textos anteriores às datas brasileiras", afirmou, confiante, o investigador. Para o autor, "a origem brasileira do fado está por documentar, assim como ninguém explica como se passa do fado dança para o fado canção". Por outro lado, acrescentando mais um argumento à tese nacional, Sardinha afirmou que a palavra fado significava, no contexto popular, o contar de uma história de vida e no sentido erudito é sinónimo de destino. "Quando se contava a vida da Isaurinha, por exemplo, o que a audiência pedia era, 'conta aí o fado - a história da vida - da Isaurinha", disse. O livro, amplamente ilustrado e integrando quatro CD, na apresentação no Teatro da Trindade, numa palestra musicada do autor, na qual os vários temas musicais serão exemplificado por Ana Guerra acompanhada à guitarra e à viola. José Alberto Sardinha, advogado, tem nove títulos publicados, todos na área da música popular, entre eles, "Tunas do Marão" (2008), "Portugal, raízes musicais" (1997), "Modas estremenhas" (1989) e "Recolhas musicais da tradição oral portuguesa" (1982).
Nota: Esta notícia é da agência Lusa, que eu não mencionei no dia em que publiquei a página, porque onde a busca me levou no Google, o texto não estava assinado e, aliás tinha várias incorrecções no que respeitava quer à data, quere ao local em que a apresentação iria acontecer, após conversa com o editor, a quem alertei para o facto, que também estranhou o facto, como não me disse nada em relação ao texto que lhe li, pensei que fosse o "press-realise" da editora.
O seu a seu dono, e quem me conhece sabe que eu nunca deixo de mencionar as fontes, no entanto aqui ficam as minhas desculpas por este lapso involuntário.
Dois pequenos excertos, retirados desta obra que nos aponta o objectivdade da investigação levada a efeito, AS ORIGENS DO FADO, que é português, genuínamente português.
...Assim, o Fado não é exclusivamente lisboeta ou coimbrão. Nem sequer se pode dizer que teve seu berço em Lisboa, ou em Coimbra. Nasceu por todo o país, onde quer que um grupo de ceguinhos ou outros músicos itinerantes, na esteira da tradição jogralesca, se juntavam para cantarem romances novelescos ou quaisquer histórias de vidas que chamavam a atençãodo povo frequentador das feiras, mercados e romarias. Essas produções podiam ser apenas poéticas, que esses intérpretes introduziam em melodias pré-existentes, ou podiam mesmo ser novas composições musicais da autoria desses músicos de rua, naturalmente dentro dos parâmetros que a tradição musical romancística lhes fornecia. Não obstante ser, pois, um fenómeno nacional – e isto desde a sua génese -, o certo é que foi de Lisboa e de Coimbra que saíram os primeiros “heróis do fado”. Em primeiro lugar, porque Lisboa possuía uma população mais numerosa e esmoler e, por outro lado, um maior número de tabernas, o que tudo atraía mais músicos ambulantes. Depois, porque foi em Lisboa que a fidalguia frequentadora das tabernas “descobriu” o Fado e o elevou aos salões e à fama. Uma vez caído em moda, aí se criaram retiros e restaurantes especialmente destinados à apresentação pública dos artistas do Fado.
…O nome “Fado” surgiu a partir do facto de os poemas narrativos contarem histórias ou episódios das vidas das pessoas, geralmente de desenlace triste ou mesmo trágico: a morte dos jovens amantes por verem o seu amor contrariado; o assassínio por ciúme; o suicídio da donzela enganada, ou o seu retiro para o convento; o castigo da mulher adúltera, ou do seu amante; a triste vida do soldado; a vida de dor e pena dos ceguinhos; a vingança da mulher abandonada; a história da mãe que mata os filhos e acaba na prisão; enfim, as vidas,