José Manuel Osório, distinguido este ano com o Prémio Amália Rodrigues Ensaio/Divulgação, tinha-se destacado nos últimos anos como investigador do fado, tendo coordenado as colecções discográficas “Fados da Alvorada” e “Fados do Fado” na etiqueta da Movieplay Portuguesa. Osório receberia em Novembro o Prémio Amália Ensaio/Divulgação que seria a sua consagração como investigador na área do fado, em que se tinha destacado nas últimas décadas, disse o musicólogo Rui Vieira Nery. O músico trabalhava recentemente numa pesquisa sobre a imprensa fadista e deixa pronto para publicar um texto de introdução à reedição do livro “O Fado e os seus censores”, de Avelino de Sousa. O interesse pelo fado começou quando se matriculou na Faculdade de Direito. Frequentava as casas de fado da linha de Cascais que, segundo afirmou, eram “espaços de alguma revolta em relação às casas de fado que proliferavam nos bairros históricos de Lisboa, e que transformavam o prazer de cantar numa obrigação”. Nas casas de fado de Cascais como “Estribo” ou “Cartola”, conheceu fadistas e poetas, nomeadamente Vasco de Lima Couto, que lhe ofereceu um poema para cantar, e José Carlos Ary dos Santos, que lhe escreveu um poema, também para ser cantado, o decassílabo “Desespero”, a partir de um soneto incluído no livro “A Liturgia do Sangue”. Osório fundou o Grupo Independente de Teatro da Faculdade de Direito, que dirigiu e para o qual encenou “O Homúnculo”, de Natália Correia, o primeiro texto desta autora a ser representado em público. O investigador tinha-se anteriormente inscrito no curso de teatro do Conservatório e trabalhara durante seis anos no Teatro Estúdio de Lisboa, dirigido por Luzia Maria Martins. José Manuel Osório gravou o primeiro disco em 1968, com poemas de Ary dos Santos, Lima Couto, Manuel Alegre, Mário de Sá Carneiro, António Botto, João Fezas Vital, Lídia Neto Jorge, António Aleixo e Maria Helena Reis. No ano seguinte, gravou o segundo disco e recebeu o Prémio da Imprensa para o Melhor Disco do Ano. Em 1970 a Casa da Imprensa distinguiu-o com o Prémio para o Melhor Fadista, mas foi impedido de cantar no palco do Coliseu, pela polícia política de então, a PIDE-DGS. À agência Lusa Rui Vieira Nery afirmou que “José Manuel Osório foi dos primeiros da sua geração a fazer a ponte entre o fado e o sector intelectual da oposição democrática”. Partiu para Paris onde trabalhou num restaurante onde se cantava fado e conheceu José Mário Branco, Sérgio Godinho e Luís Cília, entre muitas outras personalidades. Na década de 1970, dinamizou o teatro amador, levando à cena dezenas de espectáculos que se apresentavam essencialmente nas colectividades de Lisboa. Conquistou o primeiro Prémio do Festival de Teatro Amador com o Grupo Oficina de Teatro de Amadores em Alfama, com o texto “Soldados” de Carlos Reyes. Editou o quarto disco, em que incluiu poemas de Fernando Pessoa, Manuel Alegre, António Aleixo, Francisco Viana, Martinho da Rita Bexiga, António Gedeão, Alda Lara, entre outros. Colaborou com vários músicos como António Chaínho, Arménio de Melo, Manuel Mendes, José Nunes, Raul Nery, José Fontes Rocha, Carlos Gonçalves, Pedro Caldeira Cabral, Pedro Leal, Joel Pina e Martinho D’Assunção, entre outros. As pesquisas sobre o fado iniciou-as em 1973 quando definitivamente regressou a Portugal, tendo escolhido como matéria de investigação o fado operário e anarco-sindicalista, com o intuito de o cantar. Após a revolução de 1974, participou na fundação do grupo de teatro A Barraca, compôs música para peças de teatro e gravou três discos de fado tradicional. A carreira discográfica pode então ser dada como encerrada, apesar de ter gravado o ano passado “Fado da Meia Laranja” para uma colectânea do poeta José Luís Gordo. Iniciou uma carreira como produtor de espectáculos e agente de artistas, actividade que manteve até 1990. Sempre ligado à organização da Festa do Avante, participou activamente na criação de um espaço fadista, o “Retiro do Fado”.Em 1993, a convite do musicólogo Ruben de Carvalho, organizou “As Noites de Fado da Casa do Registo”, inseridas na Lisboa/94, Capital Europeia da Cultura. Em 1998 coordenou as Festas da Cidade de Lisboa. Colaborou com o Museu do Fado, organizou colóquios e várias iniciativas ligadas ao fado, participando como autor na obra “Um século de fado”. Em 2005 coordenou o projecto “Todos os Fados” para a revista Visão, posteriormente colaborou na antologia dos fadistas Fernanda Maria e Fernando Maurício, editadas pela Moviplay Portuguesa e, para esta mesma editora, as séries “Fados da Alvorada” e “Fados do Fado”, trazendo à ribalta o repertório fadista desde a década de 1950 até 1974. José Manuel Osório nasceu em Leopoldoville, atual Kinshasa, na República do Zaire, então Congo Belga, no dia 13 de Maio de 1947. Aos dez anos veio estudar para Portugal, ingressando dois anos depois no Conservatório de Música de Lisboa, tendo terminado aos 15 o Curso Básico e Superior de Solfejo. Terminou com louvor e distinção o curso de piano aos 24 anos.
In: Jornal "O Público"
José Manuel Osório nunca duvidou e sempre o afirmou, que a música do Fado Versículo é de Alfredo Marceneiro, ainda há pouco tempo também me confidenciou que achava de um mau gosto e de uma mesquinhês vingativa, que no Museu do Fado esteja em destaque a fotografia de meu avô Alfredo Marceneiro, com montagens que o colocam ao lado de muita gente, mas em, nenhuma se vê o seu filho (meu pai) Alfredo Duarte Júnior, mas há um facto indiscutivel é que Alfredo Marceneiro foi o maior fadista/compositor que o Fado conheceu, deixou uma geração que soube honrar o seu nome, geração à qual estou vinculado... por muito que incomode muita gente.
Vítor Marceneiro