Este blogue, para além do prazer que me deu, em falar de Fado, e recordar Lisboa, deu-me também a oportunidade de voltar a encontrar, e conviver de perto, com gente ilustre da vida artística portuguesa. Desta vez, para além do prazer, tive a honra de conviver, com a ilustre senhora que é Lídia Ribeiro, a quem quero desde já agradecer, a maneira simpática e amável, como me recebeu. Por isso e por tudo, deixo-lhe o meu muito obrigado.
Lídia Ribeiro, nasceu em Lisboa, em 21 de Setembro de 1934, sendo a mais velha de sete irmãos.
Desde muito jovem, que se sentiu atraída pelo canto e pela musica, tendo mesmo estudado piano, embora durante pouco tempo Para cantar decorava os versos, que os cegos, e não só, cantavam nas ruas de Lisboa, acompanhados de guitarras e acordeões, e também tudo o que ouvia na telefonia, que ela depois cantava nas festas de bairro, e na escola primária, durante os intervalos.
O seu sonho era ser cançonetista, sonho que se transformou em realidade, para satisfação de todos nós, que assim tivemos oportunidade, de ouvir canções e fados, na sua bonita voz, e apreciar a sua bonita imagem.
Em 1951, com 17 anos, no famoso programa de Igrejas Caeiro, " Os Companheiros da Alegria", que tinha lugar no Jardim Cinema, inscreveu-se para prestar provas, que consistiam em cantar durante cinco minutos à capela, tendo como júri o público, que distinguia os seus eleitos, através do tempo que duravam os aplausos. O prémio para o vencedor era de 500 escudos, quantia algo significativa naquele tempo, e o tema que ela escolheu foi o fado " Foi Deus ", que lhe deu a vitória nesse dia.
A sua já bonita figura, e a sua voz, impressionaram, Igrejas Caeiro, que logo a convidou para se inscrever num concurso que ele preparava, com o nome de "À Procura de uma Estrela", embora, a tivesse convencido, para que pudesse ter mais êxito, a cantar Fado e não canção, o que ela aceitou, mas, ainda hoje afirma, sempre se tenha sentido mais cançonetista, do que fadista. Efectuado o concurso, que decorreu ao longo de cerca de um ano, Lídia Ribeiro foi eliminando as concorrentes de outros bairros, até que chegou à final, interpretando também " Foi Deus ", "vencendo" a concorrente da Voz do Operário, que era, a hoje conhecida e famosa Anita Guerreiro, que foi eliminada na pré-final. Ainda hoje, na sua simplicidade, e humildade, Lídia Ribeiro diz que desconhece, como foi possível "vencer" Anita Guerreiro! Como prémio, Lídia, passou a integrar o elenco dos " Companheiros da Alegria ", e recebeu a carteira profissional. Entretanto, também se candidatou a um concurso da extinta Emissora Nacional, dirigido pelo poeta Jerónimo Bragança, cujo vencedor foi D. Vicente da Câmara, tendo recebido uma menção honrosa, que lhe daria direito a integrar os quadros da E.N., hipótese que recusou, não só porque o cachet era inferior ao que auferia nos "Companheiros da Alegria", como também, e sobretudo, pelo reconhecimento e gratidão para com Igrejas Caeiro, que ela reconhece ter sido o seu padrinho artístico.
Todavia, por circunstâncias politicas, que são do domínio público, os "Companheiros da Alegria", tiveram curta duração, pelo que, Lídia, acabou por ingressar na Emissora Nacional. No entanto, foi durante o contrato que manteve com a Companhia, de Igrejas Caeiro, que conheceu um jovem cançonetista, o conhecido Luis Guilherme, com quem casou em 1954, tendo nascido no ano seguinte, a sua filha, a hoje conhecida e reconhecida profissional de televisão, Teresa Guilherme.
Com Luis Guilherme, e com a sua filha, (foto do lado)partem para o Brasil, em 1955, onde obtiveram grandes êxitos, tendo sido contratados para a TV Record, percorrendo depois o Brasil com um show musical, intercalando as canções de Luis Guilherme com os fados de Lídia Ribeiro, que gravou o seu primeiro disco no Brasil, que incluía o fado "Foi Deus", disco esse que enviou a Alberto Janes, que, por tanto o ter apreciado, escreveu para ela o poema " Á Janela do meu Peito", que acabou também por gravar no Brasil, e que foi o seu maior êxito, tendo sido mais tarde, cantado também por Amália Rodrigues.
Regressada a família a Portugal, em 1961, motivada pela idade escolar de sua filha, e perante o grande êxito que tinha sido o "A Janela do meu Peito", tornou-se artista da Casa Valentim de Carvalho.
Prosseguiu a sua carreira, tendo sido contratada para o Restaurante Folclore, (propriedade de Manuel Vinhas/Portugália) onde se manteve durante treze anos, participando num espectáculo vocacionado para o turismo, que proporcionava grandes digressões pelo estrangeiro, para divulgação do nosso folclore, e que contava com nomes muito prestigiados do nosso meio artístico, como, Arminda Vidal, Ada de Castro, os acordeonistas Fernando e Fernanda Guerra, o guitarrista António Chainho, o violista José Maria Nóbrega etc. Entretanto, durante a vigência do contrato com o Restaurante Folclore, foi sempre contratada, durante dois meses por ano, para actuar no Casino Estoril, então, palco apenas, para alguns eleitos. Em 1962, com Luis Guilherme, partem para uma tournée, pelo continente africano, tendo percorrido durante ano e meio, Angola, Moçambique, África do Sul, Ex-Rodésia etc.
Em 1973, o Restaurante Folclore, fecha definitivamente, e Lídia Ribeiro é contratada, para actuar em rotação, em todos os casinos portugueses.
Lídia Ribeiro com a filha Teresa Guilherme, e Tony de Matos
Em 1979, une-se sentimentalmente a Tony de Matos, efectuando espectáculos em várias partes do mundo, até que, em 1985, aceitam o desafio de Marcelino de Brito, ao tempo, proprietário da casa de fados, O Fado Menor, para integrarem o elenco, juntamente com Carlos Zel e Filipe Duarte, projecto este que durou apenas dois anos.
Em 1989 Tony de Matos, deixou-nos, partiu para o Céu, mas Lídia continuou a cantar Fado, nas Arcadas do Faia, e, por muita insistência de Maria Jó-Jó, na Taverna del Rei, onde se manteve até se retirar definitivamente em 1999.
Todavia, Lídia Ribeiro, como grande artista que é, deixou de cantar, e começou a pintar, tem quadros lindos, que eu tive o privilégio de apreciar, considera-se uma mulher feliz, continua muito bonita, (de que cor são os seus olhos, Lídia?), e é também, uma mulher e mãe privilegiada, porque tem o amor e o carinho da sua filha, agora também, apreciadora e critica dos trabalhos de pintura da sua mãe.
Além do prazer e da honra que tenho de ter esta foto no meu álbum de recordações, publico-a principalmente para chamar à atenção do quadro a óleo que se vê por cima do sofá, que é um dos belos quadros pintados por Lídia Ribeiro