José Victal Branco Malhoa, nasceu nas Caldas da Rainha.
Veio para Lisboa onde fez toda a sua educação artística. Foi no início um pintor de assuntos de ar-livre. Passa por várias fases do desenrolar da sua criatividade. É assim que pinta a festa de S. Martinho e «O Fado», onde as figuras saem fora da vida para se impregnarem duma transfiguração impar. São os bêbados e os párias, vinho, e a meia-luz das vielas sombrias.
«O Fado», sobretudo, é uma alegoria pungente; um par amoroso numa atitude aviltante, num interior de lupanar onde não falta o olhar comiserado duma estampa do Senhor dos Passos, com a túnica roxa e a cruz às costas.
Mas o povo de Lisboa tem-lhe prestado o culto da admiração, glosando o seu motivo com pretextos da glorificação, e ama este quadro como jóia preciosa. O Fado de Malhoa!
Cantou-o a voz de Amália Rodrigues e tantas outras. Tem sido motivo de inspiração de cantigas e bailados nos teatros musicados; foi argumento de filmes, legenda de calendário, polémica de estudos, glosa de versos populares… e anda decorado na pupila dos lisboetas como estampa que é bem sua.
«A Voz de Portugal» na sua edição de 15 do Outubro de 1955 transcreve a história desta obra de arte ligada à cantiga popular portuguesa, como homenagem ao pintor que foi enaltecido em bronze numa praça da sua terra natal, num texto de António Montez.
Amigo de Lisboa e português dos melhores, entendeu o artista dever mostrar ao mundo a pintura que tanto o prendeu.
A França, a Espanha, a Inglaterra e a Argentina apreciaram o trabalho, deram-lhe altas recompensas, o que, por si só, justifica a sua aquisição pela Câmara Municipal de Lisboa, que não quis, perder a oportunidade de guardar no «Museu da Cidade» um quadro de realismo impressionante, sem dúvida a pintura mais lisboeta na obra do Mestre.
Mas para Malhoa não foi tarefa fácil a escolha dos modelos para o quadro!
Ao tempo, havia na Mouraria um fadista que dava que falar, conhecido pela alcunha de «Pintor».
As visitas diárias de Malhoa, à viela sombria da Rua do Capelão, começaram a chamar a atenção das desgraçadas do bairro castiço, que, para evitar confusões, passaram a chamar a Malhoa «O Pintor Fino». Aliás foi uma delas que lhe indicou o rufião Amâncio – tocador de guitarra que manejava a navalha como poucos –, para modelo do quadro que havia de imortalizar Malhoa.
O primeiro encontro do pintor com o fadista, em plena Mouraria, constituiu um acontecimento sensacional, pois deu lugar à apresentação da Adelaide, também chamada «Adelaide da Facada», por virtude dum traço largo e profundo que tinha do lado esquerdo do rosto, razão que levou o Mestre a mudar a posição que tinha esboçado inicialmente para os retratos.
Malhoa disse o que queria, pôs condições, e como a oferta de seis vinténs por sessão, foi considerada bastante compensadora, o Amâncio garantiu que Adelaide não faltaria nunca!
Foi sol de pouca dura, pois Amâncio, ruído de ciúmes, agredia a companheira logo que o pintor voltava costas, acabava por vir a polícia, e lá iam os dois para o Governo Civil, a insultarem-se mutuamente, mas o mestre Malhoa, com a sua influência pessoal, lá conseguia libertar os turbulentos modelos.
A certa altura, Malhoa fez descer a alça da camisa da infeliz. O Amâncio, cada vez mais ciumento, não gostou da graça, azedou-se, e de mão no bolso e ar ameaçador, disse ao Mestre que não era para brincadeiras. Não se sabe o que se passou, mas a verdade é que a alça subiu para o seu lugar, da mesma forma que a saia branca gomada foi substituída pelo saiote de baeta vermelha.
Quadro do Mestre José Malhoa " o Fado"
FADO MALHOA
Criação de Amália Rodrigues
Letra de: José Galhardo
Música de: Frederico Valério
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FADO MALHOA
Alguém que Deus já lá tem
Pintor consagrado,
Que foi bem grande
E nos fez já ser do passado,
Pintou numa tela
Com arte e com vida
A trova mais bela
Da terra mais querida.
Subiu a um quarto que viu
A luz do petróleo
E fez o mais português
Dos quadros a óleo
Um Zé de Samarra
Com a amante a seu lado
Com os dedos agarra
Percorre a guitarra
E ali vê-se o fado.
Faz rir a ideia de ouvir
Com os olhos senhor
Fará mas não para quem já
Ouviu mas em cor
Há vozes de Alfama
Naquela Pintura
E a banza derrama
Canções de amargura
Dali vos digo que ouvi
A voz que se esmera
Dançando o Faia banal
Cantando a Severa
Aquilo é bairrista
Aquilo é Lisboa
Aquilo é fadista
Aquilo é de artista
E aquilo é Malhoa
Quadro "O Fado" de José Malhoa
MESTRE JOSÉ MALHOA (1855 - 1933)
José Victal Branco Malhoa, nasceu nas Caldas da Rainha.
Veio para Lisboa onde fez toda a sua educação artística. Foi no início um pintor de assuntos de ar-livre. Passa por várias fases do desenrolar da sua criatividade. É assim que pinta a festa de S. Martinho e «O Fado», onde as figuras saem fora da vida para se impregnarem duma transfiguração impar. São os bêbados e os párias, vinho, e a meia-luz das vielas sombrias.
«O Fado», sobretudo, é uma alegoria pungente; um par amoroso numa atitude aviltante, num interior de lupanar onde não falta o olhar comiserado duma estampa do Senhor dos Passos, com a túnica roxa e a cruz às costas.
Mas o povo de Lisboa tem-lhe prestado o culto da admiração, glosando o seu motivo com pretextos da glorificação, e ama este quadro como jóia preciosa. O Fado de Malhoa!
Cantou-o a voz de Amália Rodrigues e tantas outras. Tem sido motivo de inspiração de cantigas e bailados nos teatros musicados; foi argumento de filmes, legenda de calendário, polémica de estudos, glosa de versos populares… e anda decorado na pupila dos lisboetas como estampa que é bem sua.
«A Voz de Portugal» na sua edição de 15 do Outubro de 1955 transcreve a história desta obra de arte ligada à cantiga popular portuguesa, como homenagem ao pintor que foi enaltecido em bronze numa praça da sua terra natal, num texto de António Montez.
Amigo de Lisboa e português dos melhores, entendeu o artista dever mostrar ao mundo a pintura que tanto o prendeu.
A França, a Espanha, a Inglaterra e a Argentina apreciaram o trabalho, deram-lhe altas recompensas, o que, por si só, justifica a sua aquisição pela Câmara Municipal de Lisboa, que não quis, perder a oportunidade de guardar no «Museu da Cidade» um quadro de realismo impressionante, sem dúvida a pintura mais lisboeta na obra do Mestre.
Mas para Malhoa não foi tarefa fácil a escolha dos modelos para o quadro!
Ao tempo, havia na Mouraria um fadista que dava que falar, conhecido pela alcunha de «Pintor».
As visitas diárias de Malhoa, à viela sombria da Rua do Capelão, começaram a chamar a atenção das desgraçadas do bairro castiço, que, para evitar confusões, passaram a chamar a Malhoa «O Pintor Fino». Aliás foi uma delas que lhe indicou o rufião Amâncio – tocador de guitarra que manejava a navalha como poucos –, para modelo do quadro que havia de imortalizar Malhoa.
O primeiro encontro do pintor com o fadista, em plena Mouraria, constituiu um acontecimento sensacional, pois deu lugar à apresentação da Adelaide, também chamada «Adelaide da Facada», por virtude dum traço largo e profundo que tinha do lado esquerdo do rosto, razão que levou o Mestre a mudar a posição que tinha esboçado inicialmente para os retratos.
Malhoa disse o que queria, pôs condições, e como a oferta de seis vinténs por sessão, foi considerada bastante compensadora, o Amâncio garantiu que Adelaide não faltaria nunca!
Foi sol de pouca dura, pois Amâncio, ruído de ciúmes, agredia a companheira logo que o pintor voltava costas, acabava por vir a polícia, e lá iam os dois para o Governo Civil, a insultarem-se mutuamente, mas o mestre Malhoa, com a sua influência pessoal, lá conseguia libertar os turbulentos modelos.
A certa altura, Malhoa fez descer a alça da camisa da infeliz. O Amâncio, cada vez mais ciumento, não gostou da graça, azedou-se, e de mão no bolso e ar ameaçador, disse ao Mestre que não era para brincadeiras. Não se sabe o que se passou, mas a verdade é que a alça subiu para o seu lugar, da mesma forma que a saia branca gomada foi substituída pelo saiote de baeta vermelha.
Foto do Mestre José Malhoa no seu Atelier
FADO MALHOA
Criação de Amália Rodrigues
Letra de: José Galhardo
Música de: Frederico Valério
Alguém que Deus já lá tem
Pintor consagrado,
Que foi bem grande
E nos fez já ser do passado,
Pintou numa tela
Com arte e com vida
A trova mais bela
Da terra mais querida.
Subiu a um quarto que viu
A luz do petróleo
E fez o mais português
Dos quadros a óleo
Um Zé de Samarra
Com a amante a seu lado
Com os dedos agarra
Percorre a guitarra
E ali vê-se o fado.
Faz rir a ideia de ouvir
Com os olhos senhor
Fará mas não para quem já
Ouviu mas em cor
Há vozes de Alfama
Naquela Pintura
E a banza derrama
Canções de amargura
Dali vos digo que ouvi
A voz que se esmera
Dançando o Faia banal
Cantando a Severa
Aquilo é bairrista
Aquilo é Lisboa
Aquilo é fadista
Aquilo é de artista
E aquilo é Malhoa