Oh! Lisboa, minha querida Lisboa,
teres sido a minha cidade berço
foi uma ventura divina.
Cescer e viver em ti, foi uma benção.
Amar-te é um dever, é profissão de fé.
Cantar-te são declarações de amor.
Mas através de ti, receber poemas que são para ti,
incluindo afagos para mim.... é um honra, é um orgulho.
Amo-te Lisboa
Assina Vítor Duarte (Marceneiro)
NOSSA SENHORA DO FADO
Lisboa é terço rezado
Nos passos de cada passo
Madrigal,cantar,jardim
Lisboa é uma aguarela
Que desanda n'um bailado
Em olhos d'olhares sem fim
Nossa Senhora do Monte
Desce em veleiro da Graça
Sangra a colina a descer
E segue a seguir p'ró Tejo
P'ró meu terreiro sem paço
Dos meus passos a doer
Lisboa é fado de luz,
Nossa Senhora da Luz
Desata-me o corpo ao céu
Dá-me o farol do teu mar
E desagua o luar
No cantar do fado meu
Lisboa é luar ao vento,
Três almas de Marceneiro
Que a levam de braço dado
Ai, meu amor cantadeiro
Não te percas d'esse jeito,
Nossa Senhora do Fado!
Para o Vítor com um xi-coração.
m.josépraça.
TENS NO OLHAR SETE COLINAS
Tens n' olhar sete colinas
Tens cantigas e marés
Tens quadras de Santo António
Brumas de Fado a teus pés
És terra à beira do rio
És fado a rasgar o tempo
Tens nas mãos-das-tuas-mãos
Asas que voam no vento
És peregrino de Lisboa
Solidão de mar de nardos
Guardas terraços nos olhos
Rasgados em mil pedaços
Porque quem poisar em ti
Vai p'ró céu de sete céus,
Sete colinas de ti ... ...
Beijinhos de mim para ti.
Eu.
Passados que são 105 anos do seu nascimento, 79 anos da sua partida, aqui fica a minha sincera homenagem a esta grande poetisa, que o Fado também enaltece, cantado-a.
Florbela de Alma da Conceição, nasceu
Aos sete anos, faz seu primeiro poema, A Vida e a Morte.
Foi uma das primeiras mulheres a ingressar no curso secundário no Liceu de Évora, facto não muito bem aceito por professores e a sociedade da época.
Em 1916, Florbela reúne uma colectânea de 88 poemas de sua autoria e três contos, com o título “Trocando Olhares.
Em 1917, completa o 11º ano do Curso Complementar de Letras e logo ingressa na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
Em 1927 Florbela perde seu irmão Apeles num trágico acidente, facto que muito a abalou psicologicamente, publicando o livro de contos “Às Máscaras do Destino” em sua memória.
Em dois de Dezembro de 1930, Florbela encerra seu Diário do Último Ano com a seguinte frase: “… e não haver gestos novos nem palavras novas.” Às duas horas do dia 8 de Dezembro, dia do seu aniversário, Florbela Espanca suicida-se, em Matosinhos.
Algumas décadas maia tarde como era seu desejo, os seus restos mortais são transportados para a sua terra natal, Vila Viçosa.
Teresa Silva Carvalho
canta com música de sua autoria
Amar! de Florbela Espanca
FLORBELA ESPANCA
Filha de
Foi Hino em Grito de Além...
Foi Candeia em busca de mais Luz...
Foi Lareira em busca de Achas para mais Lume...
Foi Labareda de Onda com todas as tonalidades do Arco-Íris...
Nasceu em 1894
Aí viveu com o Pai, a Madrinha (Esposa legítima de João M. Espanca) e com o irmão mais novo, Apeles. A casa situava-se no actual n. 59 da Rua Florbela Espanca.
Correu campos, charnecas, bebeu luares e sombras de paisagens...
Amava Livros e Sonhos ... Aos oito anos já escrevia a Alma ...
Em Évora, no Liceu André Gouveia, respirou felicidade (" Hoje mando-lhe o edifício do Liceu. Aqui passei os melhores anos da minha vida..." in Vol. V, Carta n. 50 “)
Em 8 de Dezembro de 1913, casou com Alberto Moutinho. ( "Eu casei e casei por amor..." in Vol. V, Carta n.45)
Ingressa na Faculdade de Direito de Lisboa e segue em Asas em busca de mais Vida... (" O meu coração anda à solta, tão grande, tão ambicioso, tem sempre frio, está sempre só... Ninguém sabe andar com ele! " in Vol. V, Carta n.64 )
Separa-se de Alberto Moutinho ( "Adeus, Alberto. Sê meu amigo sempre como é tua amiga a Florbela" in Vol. V, Carta n. 78 )
Apaixonada por
Casam a 29 de Junho de 1921. Mas
Novo divórcio e nova paixão por Mário Lage com quem casa a 29 de Outubro de 1925, na Igreja do Senhor Bom Jesus, em Matosinhos .
Doente desta busca permanente, Florbela cansa o Pulso mais e mais... Ama infinitamente e sofre além, para lá da fronteira da pele...
Tenta repousos e tratamentos sucessivos e em 7 de Dezembro de 1930 VOOU ALÉM, definitivamente, P'RA LÁ DA SUA TÃO QUERIDA CHARNECA ALENTEJANA... - Repousa, desde 1964, no Cemitério de Vila Viçosa... -
-- FLOR BELA LOBO, conforme sua Certidão de Baptismo, FOI SENSIBILIDADE DESMEDIDA, ÁGUA CORRENTE D'ALMA
( ... E O FADO DEU-LHE COLO DILVUGANDO, AO SOM DO TRINAR DAS GUITARRAS E DE BOAS VOZES, ALGUNS SONETOS DA SUA VASTA OBRA... )
Maria José Praça
CELEIRO D'ALMA A FLORBELA ESPANCA
Flor, ______tempo
Bela , ______lonjura no vento
Seara rubra em rebento
Espiga do peito em além
Perdidamente,
Em planura d'olhar longe
Ceifada voava em asas
De sonetos d'alma enchente
Em lua quase a 'pagar-se...
Torrente
D'água brilhante corrente...
Tremente
Voz de papoila gemente
Escorrendo fogo do peito, luzente...
Candeia
De passos soltos e alados d'além
D'além, além, tão além
Perdidamente,
Celeiro d'hinos frementes...
Maria José Praça
Nota:Estou convicto que Florbela Espanca se tornou mais conhecida do povo menos letrado através do seu poema “ Amar”, que muitos artistas cantaram, que aqui destaco mais uma vez na voz de Teresa Silva Carvalho, com música de sua autoria.
Da minha amiga, a poetisa Maria José Praça, recebi estes versos, que muito agradeço. Neste trabalho por vezes angustiante, cai sempre bem um "miminho"
Para o Vítor com um beijinho - Maria José Praça
LATIM DE LISBOA
Poema de: Maria José Praça
Com manjericos,fogueiras e alcachofras
Canto este fado em latim de Lisboa
E ao vento do luar das quatro luas
Ajeito-me ao seu xaile com canoas
E em romaria de fragata ao Tejo
Em de mansinho canto que me afunda
Teço-me em passos nas pedras da calçada
E em verbo d'ir andando
Sigo a bruma
À beira Tejo vislumbro madrugadas
E em rimas de memória ao Sol de pôr-se
Desenho-me em saudades nos recantos
Que vão p'ra lá da Índia
À vela, soltas
E em sopros contrários
Sigo o canto
D'um campo rubro de cravos e papoilas
Onde se cruza um bem-me-quer-ao-peito
Que dá voz ao coração de Lisboa !