Maria de Lurdes de Almeida Lemos nasceu em Lisboa, a de 24 de Abril de 1926.
Milú foi o nome artístico que escolheu.
Estreou-se na rádio aos dez anos, e no cinema, aos doze anos, com uma breve participação em A Aldeia da Roupa Branca, de Chianca de Garcia, ao lado de Beatriz Costa.
O cinema nacional, de vida irregular e carácter improvisado, sempre teve um dos seus mais fortes apoios nos populares artistas do teatro, que lhe enchem as salas com o seu público fiel. Milú, a única ' 'movie star'' portuguesa, é a excepção. Vinda do cinema, o público acorre à revista para a ver "in person'', tal qual como quando as de Hollywood dão uma saltada à Broadway.
Milú é também excepção porque é vedeta essencialmente pela sua beleza. Enquanto que às outras a elegância ou o sorriso vêm por acréscimo, ela "existe" por ser excepcionalmente bonita. O público simpatizava com Milú desde pequena, quando alegrava, na Rádio-Sonora, a "Hora da petizada", e, depois, na Emissora, formando quarteto com Maria da Graça e as irmãs Remartinez. O público vê-a crescer, fazer-se estrela de cinema e gosta de a ouvir, com a sua voz grossa e um tanto afectada, como então era moda, cantar a Cantiga da rua e É assim Lisboa, canções dos seus popularíssimos filmes (O Costa do Castelo, 1943; Doze luas de mel, 1944).
Loura e mimada, sempre mais bonita, Milú retira-se de quando em quando, anunciando que é de vez, para logo voltar, sorridente, de cabeça erguida, enroscada no seu vison, pronta a desaparecer de novo. A revista, que não está acostumada a estes luxos, toda se deslumbra quando a estreia de Milú é anunciada nos seus palcos. Estreia que vai sendo constantemente adiada até que acontece, finalmente, em O Rosa arredonda a saia (1952), com agrado, embora ela, ao fim de um mês, abandone o espectáculo.
O público que conhecia Milú sabia que ela, na revista, não era novidade, pois aparecera em O preto mazalipatão (1938), "revista de miúdos" que fez furor no Éden e onde contracenava com Maria José e Manuel Paiào. Tinha então só doze anos e era já anunciada como ' 'vedeta de fantasia''.
Não sendo uma vedeta popular, mas antes uma bonita vedeta, as aparições de Milú na revista nunca são banais. Quase sempre traz alegres canções, como Canta Lisboa (O Rosa arredonda a saia, 1952), ou a célebre Lisboa à noite, que ela criou em NãO faças ondas (1956) e deu a volta ao mundo. Em Agora é que são elas (1953) comandou um elenco feminino, cantando a popular Alfama, e com tanto êxito que, caso inédito, o espectáculo foi filmado e correu como filme de fundo pela província. Ninguém como Milú para, montando um cavalo branco, entrar no palco e dar chique a uma apoteose ribatejana, como o fazia em A vida é bela (1960). Embora sem grandes consequências, fez também uma revista em Barcelona (Ven y ven, 1960), em vedeta, claro.
Um dia, desapareceu pelo Brasil e lá ficou muitos anos. Quando regressou, em 1969, era a Milú de sempre. Disse que não queria nada com o espectáculo, e eí-la logo num filme desastroso (O diabo era o outro, 1969). Depois, com relativo agrado, fez dramas e comédias até que voltou à revista, em Lisboa acordou... (1975). Servida por péssimos números, não pôde ser a Milú por quem esperava esse público que a conhece desde pequena e embora se lembre dela como a rapariga bonita e desembaraçada das comédias cinematográficas dos anos 40, gosta sempre de a ver no palco.
Foi distinguida pela Secretaria de Estado da Cultura com uma condecoração de mérito artístico. Em 2007 foi agraciada com a Ordem Militar de Santiago e Espada, pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva.
Milú deixou-nos a 5 de Novembro de 2008 aos 82 anos
Filmografia:
Kilas, o Mau da Fita (1981)
O Diabo Era Outro (1969)
Dois Dias no Paraíso (1958)
Vidas Sem Rumo (1956)
Agora É Que São Elas (1954)
Os Três da Vida Airada (1952)
O Grande Elias (1950)
A Volta de José do Telhado (1949)
O Leão da Estrela (1947)
Barrio (1947)
Doce lunas de miel (1944)
O Costa do Castelo (1943)
Aldeia da Roupa Branca (1939)
In: A Revista à Portuguesa de Vítor Pavão dos Santos e Wikipédia
Milú canta
Cantiga da Rua