Moinhos Desmantelados....
Pelos tempos derroídos....
O futuro não pára e as novas tecnologias avançam. Hoje em dia os moinhos de vento que serviam para o moleiro transformar as semente do trigo ou do centeio, em farinha, para fazer o pão, que era, e ainda é o alimento da grande maioria das populações, apenas há alguns em funcionamento para demonstração turística e/ou didáctica.
Quando na zona Oeste andei a tirar as fotos para este video-clip, verifiquei que alguns ainda se mantém intactos por iniciativa de cidadãos particulares, há casos em que são mesmo habitação permanente, outros como 2ª habitação. Também algumas entidades públicas, em especial as autarquias fazem o possível para manter um ou outro de pé, mas com o tempo, virá o costumado desabafo " de falta de dinheiro para os manter " e assim irão desaparecendo.
Com o aparecimento das fábricas de moagem, estes lindos monumentos campestres que tanta inspiração deram aos poetas, começaram a deixar de ser usados. Os velhos moleiros foram morrendo e não houve seguidores.
Mas este panorama não é recente, já assim era nos anos trinta do século passado, o que se confirma no poema que Henrique Rego escreveu para meu avô, a seu pedido, pela tristeza que lhe dava quando ía à terra de seus pais , no Cadaval, ao ver os moinhos abandonados e em ruínas.
Hoje vêem-se os montes já com largas dezenas de moinhos "Eólicos", que como sabem não moem farinha, geram somente energia eléctrica. Veremos se serão inspiração no futuro para algum poeta! Quem sabe?
" MOINHO DESMANTELADO"
Letra de: Henrique Rêgo
Moinho desmantelado
Pelo tempo derruído
Tu representas a dor
Deste meu peito dorido
Ao dizê-lo sinto pejo
Porque em ti apenas vejo
A miseranda carcaça
Perdeste de todo a graça
Heróica do teu passado
Hoje ao ver-te assim mudado
Minha alma cora e descrê
E quem te viu, e quem te vê
Moinho desmantelado
Moinho pombo da serra
Que triste fim tu tiveste
Alvas farinhas moeste
Para o povo da tua terra
Hoje a dor em ti se encerra
Foste votado ao olvido
Foi-se o constante gemido
Dessas mãos trabalhadoras
Doce amante das lavouras
Pelo tempo derruído
Em fundas melancolias
Ás tristes aves sombrias
Hoje serves de dormida
No teu seio dás guarida
Ao horrendo malfeitor
Tudo em ti causa pavor
É bem triste a tua sorte
Sombria estátua da morte
Tu representas a dor
Oh! meu saudoso moinho
E do meu terno avozinho
Quantas histórias ouvi
Agora tudo perdi
Sou pela dor evadido
Vivo no mundo esquecido
Moinho que crueldade
És o espelho da saudade
Deste meu peito dorido
Letra de : Henrique Rego
Música de Alfredo Marceneiro
" O NATAL DO MOLEIRO "
Que noite de Natal, tristonha agreste
De neve amortalhava-se o caminho
E o vento sibilada do nordeste
Por entre as frinchas da porta do moinho
Sentado na velha mó, já carcomida
Onde incidia a luz d´uma candeia
O moleiro de barba encanecida
Com a mulher comia a parca ceia
Próximo do moinho, ouviu-se em breve
Uma voz e o moleiro abrindo a porta
Viu um velhinho todo envolto em neve
Vergado ao peso d´uma esperança morta
Entrai meu peregrino da desgraça
Disse o moleiro ao pálido ancião
Aqui não há dinheiro, existe a graça
De haver carinho, piedade e pão
Vinde comer agasalhar-se ao lume
Festejar o nascer do Deus Menino
Porque a vida somente se resume
Na escravidão imposta p´lo destino
Então o velhinho com uma voz sonora
Pronunciou levando as mãos ao peito
Abençoado seja a toda a hora
Este moinho que é por Deus eleito
Mas também não posso deixar aqui de lembrar mais uma vez o excelente poema "em versos alexandrino" de João Linhares Barbosa, " Eu Lembro-me de Ti", para o qual Marceneiro fez um estilo/música que é hoje um clássico memorável, que nos fala do moinho o moleiro e a linda moleirinha, que provavelmente acaba por se perder na cidade pois já não era preciso ajuadar os pais no moinho
" LEMBRO-ME DE TI "
Letra de João Linhares Barbosa
Música: Alexandrino “ Lembro-me de Ti” de Alfredo Marceneiro
Eu lembro-me de ti,
Chamavas-te Saudade
Vivias num moinho
Ao cimo do outeiro
Tamanquinha no pé,
Lenço posto á vontade
Nesse tempo eras tu,
A filha do Moleiro
Eu lembro-me de ti,
Passavas para a fonte
Pousando no quadril
O cântaro de barro
Imitavas em graça
A cotovia esonte
E mungias o gado
Até encher o tarro
Eu lembro-me de ti,
E ás vezes a farinha
Vestia-te de branco,
E parecias-me então
Uma Virgem gentil
Que fosse á capelinha
Num dia de manhã
Fazer a Comunhão
Eu lembro-me de ti,
E fico-me aturdido
Ao ver-te pela rua
Em gargalhadas francas
Pretendo confundir
A pele do teu vestido
Com a sedosa lã
Das ovelhinhas brancas
Eu lembro-me de ti,
Ao ver-te no casino
Descarada a fumar
Luxuoso cigarro
Fecho os olhos e vejo
O teu busto franzino
Com o avental da cor
Do cântaro de barro
Eu lembro-me de ti,
Quando no torvelinho
Da dança sensual
Passas louca rolando
Eu sonho, eu fantasio
E vejo o teu moinho
Que bailava também
Ao vento assobiando
Eu Lembro-me de ti,
E fico-me a cismar
Que o nome de Luci,
Que tens não é verdade
Que saudade que eu tenho,
E leio no teu olhar
A saudade que tens
De quando eras Saudade