Clique aqui para se inscrever na
Associação Cultural de Fado

"O Patriarca do Fado"
Sexta-feira, 1 de Abril de 2016

Alfredo Marceneiro canta Moinho Desmantelado

Genérico0.jpg

  Moinhos Desmantelados....

               Pelos tempos derroídos....

 

O futuro não pára  e as novas tecnologias avançam. Hoje em dia os moinhos de vento que serviam para o moleiro transformar as semente do trigo ou do centeio, em farinha, para fazer o pão, que era, e ainda é o alimento da grande maioria das populações, apenas há alguns em funcionamento para demonstração turística e/ou didáctica.

Quando na zona Oeste andei a tirar as fotos para este video-clip, verifiquei que alguns ainda se mantém intactos por iniciativa de   cidadãos particulares, há  casos em que  são mesmo habitação permanente, outros como  2ª habitação.  Também algumas entidades públicas, em especial as autarquias fazem o possível para manter um ou outro de pé, mas com o tempo, virá o costumado desabafo " de falta de dinheiro para os manter " e assim irão desaparecendo.

Com o aparecimento das fábricas de moagem, estes lindos monumentos campestres que tanta inspiração deram aos poetas, começaram a deixar de ser usados. Os velhos moleiros foram morrendo e não houve seguidores.

Mas este panorama não é recente, já assim era nos anos trinta do século passado, o que se confirma no poema que Henrique Rego escreveu para meu avô, a seu pedido, pela tristeza que lhe dava quando ía à terra de seus pais , no Cadaval, ao ver os moinhos abandonados e em ruínas.

Hoje vêem-se os montes já com largas dezenas de moinhos  "Eólicos",  que como sabem não moem farinha, geram somente  energia eléctrica. Veremos se serão inspiração no futuro para algum poeta! Quem sabe?

 

 

 

 " MOINHO DESMANTELADO"

 

Letra de: Henrique Rêgo

 

Moinho desmantelado

Pelo tempo derruído

Tu representas a dor

Deste meu peito dorido

 

 Ao dizê-lo sinto pejo

Porque em ti apenas vejo

A miseranda carcaça

Perdeste de todo a graça

Heróica do teu passado

Hoje ao ver-te assim mudado

Minha alma cora e descrê

E quem te viu, e quem te vê

Moinho desmantelado

 

Moinho pombo da serra

Que triste fim tu tiveste

Alvas farinhas moeste

Para o povo da tua terra

Hoje a dor em ti se encerra

Foste votado ao olvido

Foi-se o constante gemido

Dessas mãos trabalhadoras

Doce amante das lavouras

Pelo tempo derruído

 

 Em fundas melancolias

Ás tristes aves sombrias

Hoje serves de dormida

No teu seio dás guarida

Ao horrendo malfeitor

Tudo em ti causa pavor

É bem triste a tua sorte

Sombria estátua da morte

Tu representas a dor

 

 Oh! meu  saudoso moinho

E do meu terno avozinho

Quantas histórias ouvi

Agora tudo perdi

Sou pela dor evadido

Vivo no mundo esquecido

Moinho que crueldade

És o espelho da saudade

Deste meu peito dorido

 

 

Letra de : Henrique Rego

Música de Alfredo Marceneiro

 

 

                                                   " O NATAL DO MOLEIRO "

 

Que noite de Natal, tristonha agreste

De neve amortalhava-se o caminho

E o vento sibilada do nordeste

Por entre as frinchas da porta do moinho

 

Sentado na velha mó, já carcomida

Onde incidia a luz d´uma candeia

O moleiro de barba encanecida

Com a mulher comia a parca ceia

 

Próximo do moinho, ouviu-se em breve

Uma voz e o moleiro abrindo a porta

Viu um velhinho todo envolto em neve

Vergado ao peso d´uma esperança morta

 

Entrai meu peregrino da desgraça

Disse o moleiro ao pálido ancião

Aqui não há dinheiro, existe a graça

De haver carinho, piedade e pão

 

Vinde comer agasalhar-se ao lume

Festejar o nascer do Deus Menino

Porque a vida somente se resume

Na escravidão imposta p´lo destino

 

Então o velhinho com uma voz sonora

Pronunciou levando as mãos ao peito

Abençoado seja a toda a hora

Este moinho que é por Deus eleito

 

 


 Mas também não posso deixar aqui de lembrar mais uma vez o excelente poema "em versos alexandrino" de João Linhares Barbosa,  " Eu Lembro-me de Ti", para o qual Marceneiro fez um estilo/música que é hoje um clássico memorável, que nos fala do moinho o moleiro e a linda moleirinha, que provavelmente acaba por se perder na cidade pois já não era preciso ajuadar os pais no moinho

     

 " LEMBRO-ME DE TI "

Letra de João Linhares Barbosa
Música: Alexandrino “ Lembro-me de Ti” de Alfredo Marceneiro

 

Eu lembro-me de ti,
Chamavas-te Saudade
Vivias num moinho
Ao cimo do outeiro
Tamanquinha no pé,
Lenço posto á vontade
Nesse tempo eras tu,
A filha do Moleiro

 

                      Eu lembro-me de ti, 
                      Passavas para a fonte
                      Pousando no quadril 
                      O cântaro de barro
                      Imitavas em graça
                      A cotovia esonte
                      E mungias o gado 
                      Até encher o tarro

 

Eu lembro-me de ti,
E ás vezes a farinha
Vestia-te de branco,
E parecias-me então
Uma Virgem gentil
Que fosse á capelinha
Num dia de manhã
Fazer a Comunhão

 

                       Eu lembro-me de ti, 
                       E fico-me aturdido 
                       Ao ver-te pela rua 
                       Em gargalhadas francas
                       Pretendo confundir 
                       A pele do teu vestido
                       Com a sedosa lã 
                       Das ovelhinhas brancas

 

Eu lembro-me de ti,
Ao ver-te no casino
Descarada a fumar
Luxuoso cigarro
Fecho os olhos e vejo
O teu busto franzino
Com o avental da cor
Do cântaro de barro

 

                       Eu lembro-me de ti,

                        Quando no torvelinho
                        Da dança sensual
                        Passas louca rolando
                        Eu sonho, eu fantasio 
                        E vejo o teu moinho
                        Que bailava também 
                        Ao vento assobiando

                       

Eu Lembro-me de ti,

E fico-me a cismar
Que o nome de Luci,
Que tens não é verdade
Que saudade que eu tenho,
E leio no teu olhar
A saudade que tens
De quando eras Saudade

 

 

Licença Creative Commons
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional, assim como registo na Sociedade Portuguesa de Autores, sócio nº 125820, e Alfredo Marceneiro é registado como marca nacional no INIP, n.º 495150.
música: Moinho Desmantelado, Natal do Moleiro e Eu Lembro-me de ti
publicado por Vítor Marceneiro às 00:00
link do post | comentar | favorito
Clique na Foto para ver o meu perfil!

Contador

arquivos

Abril 2024

Março 2024

Agosto 2021

Maio 2021

Fevereiro 2021

Maio 2020

Março 2020

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Novembro 2018

Outubro 2018

Agosto 2018

Dezembro 2017

Outubro 2017

Agosto 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Aguarelas gentilmente cedidas por MESTRE REAL BORDALO. Proibida a sua reprodução.

tags

10 anos de saudade

2008

50 anos de televisão

a severa

ada de castro

adega machado

adelina ramos

alberto ribeiro

alcindo de carvalho

alcino frazão

aldina duarte

alfredo correeiro

alfredo duarte jr

alfredo duarte jr.

alfredo duarte júnior

alfredo marcemeiro

alfredo marceneiro

alice maria

amália

amália no luso

amália rodrigues

américo pereira

amigos

ana rosmaninho

angra do heroísmo

anita guerreiro

antónio dos santos

antónio melo correia

antónio parreira

argentina santos

armanda ferreira

armandinho

armando boaventura

armando machado

arménio de melo - guitarrista

artur ribeiro

beatriz costa

beatriz da conceição

berta cardoso

carlos conde

carlos escobar

carlos zel

dia da mãe

dia do trabalhador

euclides cavaco

fadista

fadista bailarino

fado

fado bailado

fados da minha vida

fados de lisboa

feira da ladra

fernando farinha

fernando maurício

fernando pinto ribeiro

florência

gabino ferreira

guitarra portuguesa

guitarrista

helena sarmento

hermínia silva

herminia silva

joão braga

josé afonso

júlia florista

linhares barbosa

lisboa

lisboa no guiness

lucília do carmo

magusto

manuel fernandes

marchas populares

maria da fé

maria josé praça

maria teresa de noronha

max

mercado da ribeira

miguel ramos

noites de s. bento

oficios de rua

óleos real bordalo

paquito

patriarca do fado

poeta e escritor

porta de s. vicente ou da mouraria

pregões de lisboa

raul nery

real bordalo

santo antónio de lisboa

santos populares

são martinho

teresa silva carvalho

tereza tarouca

tristão da silva

vasco rafael

vítor duarte marceneiro

vitor duarte marceneiro

vítor marceneiro

vitor marceneiro

zeca afonso

todas as tags