Quadro do Mestre Real Bordalo da Igreja de Nossa Senhora da Saúde
IGREJA DE NOSSA SENHORA DA SAÚDE
A Ermida de Nossa Senhora da Saúde - melhor é classificá-la assim - situa-se no Bairro da Mouraria, na Rua Martim Moniz, local antigamente situado fora de portas. Constituía um dos encantos populares religiosos de Lisboa do século passado e que perdurou até à República.
No início do século XVI (1506), . terá sido construída uma ermida dedicada a S. Sebastião, mártir romano do final do século III, cujo culto se estendeu rapidamente por todo o mundo cristão depois de proclamado patrono de Roma pelo Papa Gregório Magno (590-604), devido à epidemia que grassou naquela cidade por mais de trinta anos.
Em Portugal foi objecto de uma devoção muito viva, como advogado contra os males da peste, da fome e da guerra. Entre nós, a peste tinha feito centenas de vítimas em 1506, e a construção da igreja foi da iniciativa dos artilheiros (na altura, bombardeiros) da guarnição de Lisboa. Por Alvará de 27 de Maio de 1647, «foi determinado que a cada um dos condestáveis que assentassem praça para servir na India se tirassem 400 réis e aos artilheiros 200 réis para se refazer do necessário para o culto da Ermida de S. Sebastião», que lhes teria sido doada pela Rainha D. Catarina, viúva de D. João III.
Contínuas epidemias surgiram no Reino e uma muito grande que vitimou milhares de pessoas, no ano de 1569, chegou a fazer mais de 500 vítimas por dia, obrigando o Rei D. Sebastião e sua avó, a Rainha D. Catarina, a afastarem-se para Sintra.
O Rei D. Sebastião (nascido em Lisboa a 20 de Janeiro de 1554, no dia litúrgico de D. Sebastião) em 16 de Outubro de 1569 escreveu ao Senado de Lisboa no sentido de se proceder à edificação de um templo dedicado àquele santo, e por outra carta, datada de 28 de Dezembro do mesmo ano, autorizava que o templo fosse levantado no sítio da Mouraria, onde já se encontrava a ermida.
No ano de 1570, Lisboa foi de novo ameaçada por peste, e o próprio Senado dirige uma petição a D. Sebastião, que se encontrava em Salvaterra de Magos, para que se faça uma cerimónia religiosa com toda a solenidade, devoção e demonstração de reconhecimento a Nossa Senhora da Saúde, por a epidemia não ter progredido.
Em 20 de Abril de 1570, realiza-se a primeira procissão de Nossa Senhora da Saúde, cuja imagem se encontrava no oratório do Colégio dos Meninos Órfãos, formando-se então a respectiva Irmandade.
A imagem continuou no Oratório, fazendo-se todos os anos a procissão em data que caía na terceira quinta-feira de Abril, até 1908, ininterruptamente durante trezentos e trinta e dois anos.
Devido à proclamação da República, a procissão deixou de se efectuar durante trinta e dois anos, até que em 1940 se reatou a tradição, vindo a quebrar-se novamente de 1974 a 1981.
No início, o percurso era da Mouraria até ao Convento de S. Domingos, com regresso ao Colégio dos Meninos Órfãos. Em 1661, por desinteligência entre os administradores do Colégio dos Meninos Órfãos e a Irmandade de Nossa Senhora da Saúde, esta pensou construir capela própria.
Os artilheiros (bombardeiros) que possuíam a sua ermida votada a S. Sebastião, na Mouraria, ofereceram então guarida à Irmandade de Nossa Senhora da Saúde, que a aceitou, com a condição de a ermida passar a chamar-se de Nossa Senhora da Saúde e de a imagem ficar colocada no altar principal. As duas Irmandade fundiram-se depois numa única - a Associação da Senhora da Saúde e de S. Sebastião - aprovada
pelo Papa Alexandre VII, e em 20 de Abril de 1662 a imagem da Senhora da Saúde, após a procissão, entrou definitivamente na sua casa da Mouraria.
A ermida de Nossa Senhora da Saúde teve a protecção, não só de reis, rainhas e príncipes, mas também de fidalgos, militares e beneméritos.
D. Pedro V, em 1861, elevou a ermida à dignidade de Capela Real. A Condessa d'Elba, viúva do Rei D. Fernando II, criou, em 20 de Maio de 1871 a Real Irmandade de Santo António Lisbonense, erguida na Real Capela de N." S.a da Saúde.
(1) (2)
(1) Vista da Procissão da Senhora da Saúde em desfile na Rua da Madalena
(2) O andor com a imagem de Nossa Senhora da Saúde
Alfredo Marceneiro
Canta: Senhora da Saúde - Há Festa na Mouraria
Senhora da Saúde - HÁ FESTA NA MOURARIA
Repertório de Alfredo Marceneiro
Poema: António Amargo - Música: Alfredo Marceneiro
Há festa na Mouraria,
É dia da procissão
Da Senhora da Saúde.
Até a Rosa Maria,
Da Rua do Capelão,
Parece que tem virtude.
Colchas ricas nas janelas,
Pétalas soltas no chão,
Almas crentes, povo rude.
Anda a fé pelas vielas,
É dia da procissão
Da Senhora da Saúde.
Após um curto rumor,
Profundo silêncio pesa,
Por sobre o Largo da Guia.
Passa a Virgem no andor,
Tudo se ajoelha e reza,
Até a Rosa Maria.
Como que petrificada,
Em fervorosa oração,
É tal a sua atitude,
Que a rosa já desfolhada,
Da Rua do Capelão,
Parece que tem virtude.