Fado Beatriz
(Ciganita)
Poema de Nuno Gonçalo
Vesti o corpo de saudade
e dei a alma à saudade
com as mãos do silêncio,
eu sou a luz da cidade
que vela por ti se tu dormes
nos lençóis da minha verdade.
És linho e vida em que teço
os poemas que eu sei cantar
pelo fel lavrado no corpo
e que não sei inventar
nas rimas com que escrevo
dos fados que persigo,
sou feita de medo e raiva
na voz livre que consigo.
Canto a amargura
de ser sozinha por fora
mas por dentro ser inteira
e ser mulher toda hora.
Dispo-me a cantar
e cubro-me só de amor
mas sofro a tua ausência
por isso canto por ti minha dor.