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Associação Cultural de Fado

"O Patriarca do Fado"
Terça-feira, 30 de Agosto de 2016

JORGE BANDEIRA - Pintor

Mais uma colaboração de um pintor (que canta Lisboa pintando), ao ver um catálogo de uma exposição de Jorge Bandeira, pedi-lhe autorização para usar alguns dos seus quadros no blog, que desde logo aceitou.

Concordarão comigo que é uma mais valia para os nossos conhecimentos, para homenagear a nossa Lisboa, e acima de tudo mostrar (que é o que eu sinto) que o Fado abrange todo o Universo da Portucalidade ....FADO é VIDA, é DESTINO....

O FADO ESTÁ EM TODAS  AS EXPRESSÕES DE ARTE DOS PORTUGUESES.

 

 

JORGE BANDEIRA

Nasceu em Lisboa, a 1 de Agosto de 1953.

Licenciado em Arquitectura, pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, 1989.

Frequentou a licenciatura em História de Arte na Universidade Aberta de Lisboa.

Frequentou o curso de Pintura da Sociedade Nacional de Belas Artes

Professor de Educação Visual, Educação Tecnológica, Oficinas de Artes e

Geometria Descritiva desde 1993.

 

Participou  em inúmeras exposições colectivas e individuais destacando-se :

 

-        ARTEXPO - Feira Internacional de Arte Contemporânea,

         Barcelona.

-        Exposição de Arte Mundo Seguro, Associação Portuguesa de

         Seguradoras, PARQUE DAS NAÇÕES – LISBOA.

-        Na Galeria CJ2 , em Lisboa.

-        Na Galeria HEXALFA ,”O olhar do Maltês”, Lisboa.

-        11ª Exposição Internacional de Torres Novas.

-        Na Galeria HEXALFA , Autumn Projects ”, Lisboa.

-        Galeria ARTUR BUAL “Problemas do Planeta”, Amadora.

-        Galeria GALVEIAS, Lisboa.

-        Galeria Ayala , Óbidos.

-        Fórum Telecom., Situ +acções”, Lisboa.

-        Galeria Orlando Morais, Ericeira.

-        Participação no programa de Televisão Divercidades ”

         Pintando ao vivo, RTP internacional

-        Galeria Grupama , Lisboa.

-        Galeria  da Caixa de Crédito Agrícola, Lisboa

Esta representado em diversas colecções no País e no Estrangeiro.

e-mail: jorgebandeira@netcabo.pt

www.jorgebandeira.no.sapo.pt

 

 

                  

 

Fernando Pessoa pintado por Jorge Bandeira

 

ACORDAR DA CIDADE DE LISBOA

 

Poema de: Fernando Pessoa

 

Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras,

Acordar da rua do Ouro,

Acordar do Rossio, às portas dos cafés,

Acordar

E no meio de tudo a gare, que nunca dorme,

Como um coração que tem que pulsar através da vigília e do sono.

 

Toda a manhã que raia, raia sempre no mesmo lugar,

Não há manhãs sobre cidades, ou manhãs sobre o campo.

Á hora em que o dia raia, em que a luz estremece a erguer-se

Todos os lugares são o mesmo lugar, todas as terras são a mesma,

E é eterna e de todos os lugares a frescura que sobe por tudo

 

Uma espiritualidade feita com a nossa própria carne,

Um alívio de viver de que o nosso corpo partilha,

Um entusiasmo por o dia que vai vir, uma alegria por o que pode acontecer de bom,

São os sentimentos que nascem de estar olhando para a madrugada,

 

Seja ela a leve senhora dos cumes dos montes,

Seja ela a invasora lenta das ruas das cidades que vão leste­-oeste,

 

Seja.

 

A mulher que chora baixinho

Entre o ruído da multidão em vivas...

O vendedor de ruas, que tem um pregão esquisito,

Cheio de individualidade para quem repara...

O arcanjo isolado, escultura numa catedral,

Siringe fugindo aos braços estendidas de Pan,

Tudo isto tende para o mesmo centro,

Busca encontrar-se e fundir-se

Na minha alma.

 

Eu adoro todas as coisas

E o meu coração é um albergue aberto toda a noite.

Tenho pela vida um interesse ávido

Que busca compreendê-la sentindo-a muito.

Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo,

Aos homens e às pedras, às almas e às máquinas,

Para aumentar com isso a minha personalidade.

 

Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio

E a minha ambição era trazer o universo ao colo

Como uma criança a quem a ama beija.

 

Eu amo todas as coisas, umas mais do que as outras,

Não nenhuma mais do que outra, mas sempre mais as que estou vendo

 

Do que as que vi ou verei.

Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações.

A vida é uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos.

Penso nisto, enterneço-me mas não sossego nunca.

 

 

 


 

E de novo, Lisboa

 

Poema de: Alexandre O´Neill

 

E de novo, Lisboa, te remancho,

numa deriva de quem tudo olha

de viés: esvaído, o boi no gancho,

ou o outro vermelho que te molha.

 

Sangue na serradura ou na calçada,

que mais faz se é de homem ou de boi?

O sangue é sempre uma papoila errada,

cerceado do coração que foi.

 

Groselha, na esplanada, bebe a velha,

e um cartaz, da parede, nos convida

a dar o sangue. Franzo a sobrancelha:

dizem que o sangue é vida; mas que vida?

 

Que fazemos, Lisboa, os dois, aqui,

na terra onde nasceste e eu nasci?

 

Camões - Pintura de Jorge Bandeira

 

 

 

 

 

 Chafariz da Junqueira - Quadro de Jorge Bandeira

 

Lisboa perto e longe

 

Poema de: Manuel Alegre

Lisboa chora dentro de Lisboa

Lisboa tem palácios sentinelas.

E fecham-se janelas quando voa

nas praças de Lisboa -- branca e rota

a blusa de seu povo -- essa gaivota.

 

                                                      Lisboa tem casernas catedrais

                                                      museus cadeias donos muito velhos

                                                      palavras de joelhos tribunais.

                                                      Parada sobre o cais olhando as águas

                                                      Lisboa é triste assim cheia de mágoas.

 

Lisboa tem o sol crucificado

nas armas que em Lisboa estão voltadas

contra as mãos desarmadas -- povo armado

de vento revoltado violas astros

-- meu povo que ninguém verá de rastos.

 

                                                 Lisboa tem o Tejo tem veleiros

                                                 e dentro das prisões tem velas rios

                                                 dentro das mãos navios prisioneiros

                                                 ai olhos marinheiros -- mar aberto

                                              -- com Lisboa tão longe em Lisboa tão perto.

 

Lisboa é uma palavra dolorosa

Lisboa são seis letras proibidas

seis gaivotas feridas rosa a rosa

Lisboa a desditosa desfolhada

palavra por palavra espada a espada.

 

                

 

Licença Creative Commons
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional, assim como registo na Sociedade Portuguesa de Autores, sócio nº 125820, e Alfredo Marceneiro é registado como marca nacional no INIP, n.º 495150.
Viva Lisboa:
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Quinta-feira, 26 de Agosto de 2010

ARMANDO BOAVENTURA - Jornalista, Pintor e Caricaturista

MEMÓRIAS QUE DESTA VIDA SE CONSENTEM... (Por ARMANDO BOAVENTURA)

 

(O SÉCULO ILUSTRADO – Nº. 762 DE 09 DE AGOSTO DE 1952)

 

 UMA PROFECIA DE ANTÓNIO ARROIO SOBRE O FADO QUE A FEIRA POPULAR DESMENTE...

 

 

 

 Feira Popular, bela iniciativa do grande jornal «O Século» - e nunca «O Século» foi tão dignamente ilustrado por feito de tão são espírito de humanitarismo, ao serviço da grei e da Pátria - em prol das crianças portuguesas, como é, sua Colónia Balnear - tem, nos seus múltiplos aspectos que a tornam o único centro de atracção dos alfacinhas nesta quadra estival, um que, particularmente, nos ajuda a reviver «Memórias que desta vida se consentem»... Referimo-nos a certos «retiros populares» - reminiscência das antigas «hortas» fora de portas, mas que cabem, e bem, dentro das portas da actual vida portuguesa, que, com nobilíssimos fins de assistência social, «O Século» nos franqueia. Assim, os últimos abencerragens dos fins do século XIX e seus imediatos sucedâneos, cuja adolescência começou a ser vivida ao despontar do século XX, fazem da Feira Popular a sua «lareira do passado» - porque, aqui, além, alguma coisa lhes recorda Lisboa - «Senhora dos tempos idos»... São as típicas locandas que embora algumas com designações modernas, lembram as que existiam naquela época distante e igualmente tão discretas, que nelas se entra e delas se sai sem que o numeroso público, que aflui à Feira, se aperceba de quais se trata... Velhos venerandos fidalgos, boémios de sempre, que andavam de braço dado com D. João da Câmara, Henrique Lopes de Mendonça, Marcelino Mesquita e outros, pelo «Zé dos Pacatos» e «Águia Roxa» na estrada de Sacavém, e que assistiram nesta última «tasca», à homenagem tributada - a D. João da Câmara, na «prêmiere» da sua peça histórica «Alcácer Quibir» - onde Carlos Harrington glosou de improviso, uma quadra célebre do autor da letra de «A Portuguesa» - hoje, Hino Nacional... Raros são os que os conhecem - eles passam irrepreensíveis em suas atitudes fidalgas, como impecáveis em seus trajos, Só porque a Feira lhes proporciona durante os meses de verão matar saudades de «in illo tempore». Nomes? Para quê? Os últimos abencerragens da Lisboa antiga são os últimos a abandonar a Feira Popular da Lisboa Nova... E de quando em quando, não obstante o modernismo ruidoso dos auto-falantes, transmitindo «sambas», «emboladas» e «modinhas» do Brasil, entremeados de canções portuguesas, ainda se ouve o nosso fado o castiço, como antigamente, na mesma toada plangente com que era cantado «fora de portas» - através de Lisboa inteira. Ás vezes, parece-nos estar no Arco do Cego, nas tabernas do «António da Joana» ou do «Frade»; na Calçada do Carriche, na «Nova Sintra» ou no «Patusca»; no campo Grande, no «Quebra Bilhas» ou no «Colete Encarnado»; em Benfica, no «Caliça»; em Campolide, no «Ferro de Engomar», (depois implantado em Benfica), no «Rabicha» ou na «Tia Iria» - em típica taberna também traslada para Campo de Ourique - até aqui, pertinho da Feira actual, no popular «Zé Azeiteiro», cuja casa estava sempre aberta, de dia e de noite, como o famoso «Botin» da Plaza de los Herradores, em Madrid, onde o infante D. Afonso, o «Arreda», após o seu casamento com a princesa Nevada, costumava cear, fiel à tradição de que, naquele velho restaurante, o fogão para assar os «cochinillos» fora aceso no tempo dos Filipes e... nunca mais se apagará. Mas... vamos ao fado, mas em silêncio - sem microfones. Ainda, há dias, ouvimos o fado antigo, cantado num ambiente dos antigos «retiros» alfacinhas. E um velho fidalgo, a nosso lado, chorou de emoção - pretexto admirável a que logo nos apegámos para redigir mais uma página de «Memórias que desta vida se consentem...». Alguns dos que assistiram ao almoço típico na «Adega da Lucília», são do tempo em que o fado, vivido e cantado - sobretudo sofrido - tinha seus bairros próprios: - Alfama e Mouraria - e todos lembramos a campanha então movida, através da tuba canora da imprensa contra a «canção nacional». O que se disse e o que se escreveu!... E até a política se meteu no caso, só porque o rei D. Carlos, ainda nos seus tempos de príncipe, aprendera a tocar guitarra com o famoso João Maria dos Anjos... Um Rei fadista?... e vá de atacar o fado... Uns deram-lhe por pai o «lundum» afro-americano (a que já se referira Tolentino) e por mãe a «módinha brasileira», esquecendo que embora sem o nome de fado, a «Triste Canção do Sul», de Alberto Pimentel tinha suas fundas raízes naquele «cantar guayado» dos nossos marinheiros e homens da Ribeira e Alfama e ao qual já aludira Gil Vicente... Tudo isto nos ocorre ao ouvir, em plena Feira Popular o velho fado cantado por um velho cantador (Alfredo Marceneiro) que tem, num rapaz de 22 anos, Luís Filipe, talvez o seu melhor continuador. E não nos venham repetir o que, em 1909, escrevia o embora autorizado António Arroio, nas suas arremetidas contra o fado pois a sua doutrina definida nestas duas frases que fizeram eco: - «Sendo Portugal positivamente um doente, o fado diagnostica a doença...: «0 fado exprime o estado de inércia e inferioridade sentimental em que o nosso País está mergulhado. Há muitos anos, e do qual urge que saia»... - está inteiramente invalidada. Nunca se cantou tanto o fado, como hoje - e ainda que não lhe demos foros de «canção nacional», (que a não possuímos), a verdade é que a sua repercussão em Portugal e além fronteiras atinge as proporções duma verdadeira consagração. E no entanto, Portugal saiu daquele estado de inércia e de inferioridade sentimental da qual o insigne António Arroio dizia ser mister sair... E a prova de que o fado não «diagnosticava a doença de que Portugal sofria» está precisamente no facto do fado acompanhar a salvação do País. Portugal restaurado fez ressurgir o fado. E no fado que hoje se canta, ainda há muita coisa do fado antigo. Voltam, assim, os bons tempos de outrora...

 

  Armando Boaventura

 

Caricatura de Alfredo Marceneiro por Armando Boaventura
 
É graticante par mim que este trabalho, tenha receptividade e que contribua para recordar figuras que fizeram parte da nossa cultura, publiquei pelas primeira vez em Agosto de 2008, uma página sobre Armando Boaventura, e passados pouco tempo fui contactado por um seu filho, Fernando Boaventura ('fmboaventura@clix.pt' ), que por ser muito jovem quando o pai faleceu, possuia poucos elementos sobre a sua obra,  ficou sentido por saber que o pai era lembrado. Nessa altura fiz um apelo, pedindo que quem soubesse algo mais sobre esta personalidade, nos contactasse.
Há dias recebi a seguinte mansagem:

 

De: Lety Vilhena
Enviada em: terça-feira, 27 de Julho de 2010 18:04
Para: fado.em.movimento@sapo.pt
Assunto: Obras de Armando Boaventura
 
Sr. Vitor,
boa tarde, moro no Brasil, na cidade de Lambari -Minas Gerais, onde tenho um imóvel com algumas pinturas de Armando Boaventura, gostaria de saber mais sobre este artista, sobre sua história e obras.
Pode me ajudar?
Grata desde já pela atenção.

Paula Vilhena

 

Logo lhe respondi,  pedindo-lhe se me enviava os trabalhos que possuía, pedido a que foi aceite,  recebi fotos dos quadros, que   publico com muito gosto e com um abraço para o  filho do autor, Fernando Boaventura.

 

 

 

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