José Rego Livro de poemas "Janela do Mundo
As Poesias de José Rego, conhecido por Zé Brasileiro, é uma compilação de composições escritas ao longo de anos.
Homem bem popular de Lisboa, (de rasto identificado em vários pontos da Cidade), nascido na Freguesia N." Sra. do Socorro (Mouraria), vive no Bairro da Boavista desde os dois anos, poeta há muito para a roda larga de amigos e convivas que o conhecem como veia repentista, ora mordaz, ora lírico de cadên cia certa e de palavra ajustada.
A quadra, tão própria dos poetas desta Lisboa popular, que animaram no passado retiros - e muitos e famosos existiram em Benfica - das tascas e tabernas, destas terras de antigo termo, eram horas de convívio à volta duma "rodada" que saía da palmatória de zinco, onde os copos transbordavam do vinho do barril.
O fado estaria presente como está nas compilações de José Rego: "o fado é
a vida da gente" pois quando "ouço uma guitarra" - "alegra-se o coração".
Homem do povo, compreende a "alma" deste nas "festas rijas" "com vinho
e sardinha assada", com bailaricos e fado".
Nas suas quadras pressente-se o pulsar de quem viveu na cidade, sobretudo. Muitas das suas composições vão direitas às experiências e contrariedades dessas mesmas vivências. Há, porém, um moralismo vertido nos versos quer de aconselhamento, quer de crítica social ou de pacifismo como era (é) comum nos criadores destes modos literários.
Revela-se contra a guerra, rejubila com a bondade, encontra-se como homem - na nossa língua, na nossa literatura e na liberdade que Abril nos deu: "como o pão da liberdade e belo Abril". Assiste e participa como estivesse numa janela, numa grande e ampla janela rasgada em todas as direcções.
Exorta a natureza, a fiel companheira, defendendo como objectivo de vida a "entrega ao fado" pois "Eu levo a vida a cantar! Dou ao fado a minha voz! Cantar o fado é sondar! A alma dentro de nós".
Como poeta popular o seu "pensamento" revela-se nas experiências e nas opiniões que transmite como generosa dádiva.
É de louvar a Junta de Freguesia de Benfica, que na oportunidade dos 60 anos da Boavista, apoie José Rego, com a publicação deste trabalho, que também é uma homenagem à população daquele emblemático bairro de Lisboa, hoje renovado, mas de vivência humana, social e de cultura popular dignas de registo.
Dr. Carlos Consiglieri
De Cacilhas P'ra Lisboa
Letra de: José Rego “Zé Brasileiro”
Da janela do meu quarto
Vejo Lisboa mais bela
Tão bela que não me farto
De a ver da minha janela
Vejo até o cacilheiro
E a poesia que tem
p' ra lá, p' ra cá, dia inteiro
Num constante vai e vem
De Cacilhas p' ra Lisboa
De um para o outro lado
Bate-lhe o vento na proa
Nunca se mostra cansado
Só quando chega a noitinha
O cacilheiro descansa
Mas volta de manhãzinha
À faina cheio de esperança
Quadro de Mestre Real Bordalo "Tejo ao entardecer "