Julieta Ferreira nasceu em Lisboa em 1952.
Desde criança sentiu uma grande paixão pela leitura e pela escrita.
Licenciou-se
Em 1983, emigrou para a Austrália, onde começou por trabalhar como tradutora e intérprete.
Em 1987 foi convidada para leccionar Língua e Cultura Portuguesa na Universidade de Queensland, Brisbane, onde se manteve até 1999.
Compilou e publicou um Curso de Língua Portuguesa para principiantes e organizou várias conferências para divulgação da História e Cultura de Portugal.
Organizou programas de treino para educadoras de infância e professores e apresentou workshops e seminários, versando temas como a diversidade, o racismo, a discriminação e o multiculturalismo.
Nos vários projectos, tem defendido, com muita paixão, os direitos dos imigrantes e refugiados e tem lutado pela inclusão e aceitação de todas as raças, na sociedade australiana. (*)
Ao longo dos anos tem escrito poemas e contos e em 1999 publicou uma pequena novela em inglês, Nothing stays the same.
É muito entusiasta por tudo o que é português e, desde que tem estado ausente do seu país, tem apreciado ainda mais as suas origens, na sua visita a Portugal, em 2005, surgiu a inspiração para a escrita de “Regresso a Lisboa” concretizando assim um sonho antigo. Este seu primeiro romance, de carácter autobiográfico, é a expressão de um amor muito intenso pela pátria e, em particular, por Lisboa.
Em 2007, publicou o seu primeiro romance de ficção, “Sem ponto final”, assim como um livro de poesia, “Pedaços de mim”. Alguns dos seus poemas foram incluídos numa Antologia de Autores Portugueses Contemporâneos, Poiesis – Vol. XV, editada pela Editorial Minerva.
Biografia fornecida pela própria
(*) Curiosamente foi votada nas Nações Unidas no dia 13 de Setembro de 2007, Resolução, a que se obrigam no respeito pela minorias. Embora aprovado pela maioria da Assembleia das N.U., teve os votos contra da Austrália e do Estados Unidos !!!
Poema sobre Lisboa, retirado do seu livro de poesia
"Pedaços de Mim"
RECORDO-TE CIDADE!
O sol banha-a rendido aos seus encantos
Fadistas choram seus prantos em canto magoado
Cauteleiros de pé firme nas esquinas
Na Brasileira um passado de rimas
Mendigos ostentam lamúrias e chagas
O Tejo une-se a ela num abraço enamorado
Poetas que a versejaram foram tantos.
Gatos espreguiçam-se nas varandas floridas
Roupa branca esvoaça nos estendais das ruelas
Crianças buliçosas rodopiam nos quintais
Quiosques vendem os matutinos jornais
Flausinas passeiam-se de mãos dadas
Amantes perdem-se pelas antigas vielas
Passos ressoam nas calçadas carcomidas.
Os ventos sopram doçuras nas colinas
Vendedores deambulam pelas avenidas
A luz reflecte-se no vermelho dos telhados
Escritores em esculturas imortalizados
Crentes rezam suas preces caladas
O prazer ofertado das mulheres perdidas
Bandeiras desbotadas mostram suas quinas.
Odores de rio e café na baixa do Marquês
Floristas dispõem ramalhetes coloridos
Engraxadores aguardam clientes pressurosos
Turistas contemplam monumentos famosos
A brisa fustiga as tristezas soluçadas
O adeus penoso que entorpece os sentidos
A dor amarga dos que já não vês.
No metro atulhado acotovelam-se os alfacinhas
O som plangente e vivo da guitarra sem idade
Mulher velha pedinte resguarda-se do frio
Som alegre do acórdão nos passeios do Rossio
Estátuas erguidos tributos de eras passadas
O Parque Mayer despovoado invoca a saudade
Nas igrejas do Chiado murmúrio de ladainhas.
O castelo fala-nos de História
Gaivotas conversam com o rio amigo
Dançam sensuais em volta de veleiros
Miradouros sobranceiam casarias caiados
Pombas esvoaçam alegres pelas praças
Reis atestam a nossa glória
Velozes fendem as águas os cacilheiros
E eu na solidão dos meus cuidados
Tento soltar-me das mordaças
Anseio voltar para o teu abrigo.
Recordo-te saudosa
Nesta terra que me tolhe a liberdade
Quero ficar
Essa é a minha verdade!