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Associação Cultural de Fado

"O Patriarca do Fado"
Sexta-feira, 14 de Setembro de 2007

JULIETA FERREIRA, Romancista e Poetisa

Julieta Ferreira nasceu em Lisboa em 1952.

Desde criança sentiu uma grande paixão pela leitura e pela escrita.

Licenciou-se em Filologia Românica na Universidade de Lisboa.

Em 1983, emigrou para a Austrália, onde começou por trabalhar como tradutora e intérprete.

Em 1987 foi convidada para leccionar Língua e Cultura Portuguesa na Universidade de Queensland, Brisbane, onde se manteve até 1999.

Compilou e publicou um Curso de Língua Portuguesa para principiantes e organizou várias conferências para divulgação da História e Cultura de Portugal.

Organizou programas de treino para educadoras de infância e professores e apresentou  workshops e seminários, versando temas como a diversidade,  o racismo, a discriminação e o multiculturalismo.

Nos vários projectos, tem defendido, com muita paixão, os direitos dos imigrantes e refugiados e tem lutado pela inclusão e aceitação de todas as raças, na sociedade australiana. (*)

Ao longo dos anos tem escrito poemas e contos e em 1999 publicou uma pequena novela em inglês, Nothing stays the same.

É muito entusiasta por tudo o que é português e, desde que tem estado ausente do seu país, tem apreciado ainda mais as suas origens, na sua visita a Portugal, em 2005, surgiu a inspiração para a escrita de “Regresso a Lisboa” concretizando assim um sonho antigo. Este seu primeiro romance, de carácter autobiográfico, é a expressão de um amor muito intenso pela pátria e, em particular, por Lisboa.

Em 2007, publicou o seu primeiro romance de ficção, “Sem ponto final”, assim como um livro de poesia, “Pedaços de mim”. Alguns dos seus poemas foram incluídos numa Antologia de Autores Portugueses Contemporâneos, Poiesis – Vol. XV, editada pela Editorial Minerva.

Biografia fornecida pela própria

(*) Curiosamente foi votada nas Nações Unidas no dia 13 de Setembro de 2007, Resolução, a que se obrigam no respeito pela minorias. Embora aprovado pela maioria da Assembleia das N.U., teve os votos contra da Austrália e do Estados Unidos !!!

 


 

Poema sobre Lisboa, retirado do seu livro de poesia

 

"Pedaços de Mim" 

RECORDO-TE  CIDADE!

 

O sol banha-a rendido aos seus encantos

Fadistas choram seus prantos em canto magoado

Cauteleiros de pé firme nas esquinas

Na Brasileira um passado de rimas

Mendigos ostentam lamúrias e chagas

O Tejo une-se a ela num abraço enamorado

Poetas que a versejaram foram tantos.

 

Gatos espreguiçam-se nas varandas floridas

Roupa branca esvoaça nos estendais das ruelas

Crianças buliçosas rodopiam nos quintais

Quiosques vendem os matutinos jornais

Flausinas passeiam-se de mãos dadas

Amantes perdem-se pelas antigas vielas

Passos ressoam nas calçadas carcomidas.

 

Os ventos sopram doçuras nas colinas

Vendedores deambulam pelas avenidas

A luz reflecte-se no vermelho dos telhados

Escritores em esculturas imortalizados

Crentes rezam suas preces caladas

O prazer ofertado das mulheres perdidas

Bandeiras desbotadas mostram suas quinas.

 

Odores de rio e café na baixa do Marquês

Floristas dispõem ramalhetes coloridos

Engraxadores aguardam clientes pressurosos

Turistas contemplam monumentos famosos

A brisa fustiga as tristezas soluçadas

O adeus penoso que entorpece os sentidos

A dor amarga dos que já não vês.

 

No metro atulhado acotovelam-se os alfacinhas

O som plangente e vivo da guitarra sem idade

Mulher velha pedinte resguarda-se do frio

Som alegre do acórdão nos passeios do Rossio

Estátuas erguidos tributos de eras passadas

O Parque Mayer despovoado invoca a saudade

Nas igrejas do Chiado murmúrio de ladainhas.

 

O castelo fala-nos de História

Gaivotas conversam com o rio amigo

Dançam sensuais em volta de veleiros

Miradouros sobranceiam casarias caiados

Pombas esvoaçam alegres pelas praças

Reis atestam a nossa glória

Velozes fendem as águas os cacilheiros

E eu na solidão dos meus cuidados

Tento soltar-me das mordaças

Anseio voltar para o teu abrigo.

 

Recordo-te saudosa

Nesta terra que me tolhe a liberdade

Quero ficar

Essa é a minha verdade!

 

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Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional, assim como registo na Sociedade Portuguesa de Autores, sócio nº 125820, e Alfredo Marceneiro é registado como marca nacional no INIP, n.º 495150.
publicado por Vítor Marceneiro às 20:54
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