Por: Silva Tavares
Sinos de Lisboa!
Vozes de piedade!...
Como todos nós, nesta transitória vida
que, mal soa se apaga - em verdade,
cada um de vós tem a sua história.
São Domingos, Madre Deus, São Lourenço
— todos, rua em rua!...
Vibrai!... Que vos dá do cão que vos ladre,
com a falta de senso com que ladra à lua?..
Vibrai... Deixai lá!
Nos sinos de São Vicente de Fora,
a glória prevista por Afonso - ecoa.!
— Voz da Fundação, atesta e memora
a dura conquista da nobre Lisboa.
Nos sinos plangentes da Conceição Velha,
sente-se o registo que em bronze proclama,
de entre cinzas quentes, a extinta centelha
dos freires de Cristo e os fastos de Alfama!
E os sinos da Sé? Que forte rebate!...
Bem surdos sereis se os não distinguis,
divulgando a Fé, chamando ao combate,
proclamando reis — sonoros, febris!
Longe, vagamente, dou p 'los de Belém,
como quando as velas demandavam Goa!
Como quando a gente de prole e de bem,
ficava por elas rezando, em Lisboa!
E oiço os de São Roque, na eterna velada
de um áureo passado!
Oiço-os e pressinto seu alegre toque,
saudando a chegada do coche doirado de Dom João V.
Mais triste de ouvir é o vosso dobrar,
sinos da Memória! Soa a vendaval!...
Teima em repetir, com voz de assustar,
a trágica história Távoras-Pombal!...
Os sinos da Graça
— que evocam o vulto de Albuquerque
— dão lampejos escassos do fervor da Raça,
no seu velho culto pela procissão do Senhor dos Passos.
E ali nos da ermida da Saúde, à -Guia,
passa — cm voz quente de sinceridade
não sei que outra vida de outra Mouraria,
da qual inda há gente que sente saudade!
Mas hoje — mal fora
só estar memorando! não são menos belas
as vozes dos sinos de Nossa Senhora de Fátima,
quando pairam sobre as velas votivas e os hinos!
Se não envelhece dos outros a voz,
na destes, tão nova, por que não havia
de ir a viva prece, que é de todos nós,
numa clara prova da Fé de hoje em dia ?
Porque não havia de ir, no sobressalto
trémulo de um sino, pousar, sem labéu,
aos pés de Maria? E vai ! Vai, tão alto,
que o nosso destino se grava no Céu!