Capa do EP - Discos Estúdio
Alfredo Marceneiro & Vítor Duarte
Cantam Duetos: Lucinda Camareira e O Camponês e o Pescador
Em 1972 já depois de ter gravado a solo e em dueto para a etiqueta Estúdio – Emílio Mateus, sou convidado para gravar um EP para a etiqueta Parlophone- Valentim de Carvalho, sendo-me dada a honra de ser acompanhado por José Nunes à guitarra, e Francisco Peres (Paquito) à viola.
Os temas foram escolhidos por mim, e é quando o saudoso Artur Ribeiro, me escreve um Fado original, como já tive oportunidade de aqui referir, “Mais Um Entre Tantos”, escolhi ainda, do repertório de meu avô, “Vestido Azul” poema de Henrique Rego, e também “Não Me Queres, Não Admira”, de Frederico de Brito, que lhe pedi directamente não só autorização, como os versos que eu não tinha, pois só conhecia o mote, que julgo já tinha sido cantado e talvez gravado por outro artista, o que na realidade desconheço, e finalmente “Sangue de Heróis” do meu saudoso Carlos Conde, que deu o título ao disco, e que escreveu o prefácio na contra-capa.
Texto da contra-capa:
Ao longo dos séculos, a terra portuguesa tem sido cenário de lutas intemeratas, de glórias, de amores e de mágoas.
Mas nas lutas. como nos amores, nas mágoas como nas glórias, souberam os portugueses cunhar um destino. E a sua maneira de ser e de viver fez uma Pátria, uma Raça, um Povo e, mais do que tudo isto: uma Alma.
E se a canção é, por vezes, a Pátria, ela está, também, em versos, nas vozes que os cantam, na intenção que os sugere, na saudade que corta todos os silêncios e chora todas as angústias.
O disco foi censurado, na face B, pelo então Director de Programas da Emissora Nacional.
Caro Vítor Duarte,
Em resposta ao seu pedido enviamos 4 imagens digitalizadas do EP Parlophone 8E 016-40236 [cota EN: A-382] — três das quais testemunham os procedimentos de censura por si mencionados.
Na imagem da contracapa é legível a seguinte inscrição: “Proibidas – Exmo. DSP – 12/12/72”. A sigla “DSP” correspondia, na Emissora Nacional a “Director dos Serviços de Programas”. Também o disco apresenta marcas feitas com lápis de cera amarelo com o objectivo de impedir a sua reprodução.
Cedemos estas imagens exclusivamente para a utilização declarada – utilização no blogue Lisboa no Guiness. A proveniência das imagens deve ser tornada explícita com a seguinte menção: “Rádio e Televisão de Portugal - Arquivo da Rádio”.
Ficamos ao seu inteiro dispor para qualquer esclarecimento adicional,
Com os melhores cumprimentos,
Eduardo Leite
Chefe de Departamento
Rádio e Televisão de Portugal
Arquivo da Rádio
Na face B, estão os temas, "Não me queres não admira" e Mais Um Entre Tantos
Vítor Duarte canta:
Não me queres, não admira
Letra de Frederico de Brito
Musica Fado Marcha de Alfredo Correeiro
Vítor Duarte canta:
Mais um Entre Tantos
Letra de Artur Ribeiro
Musica Fado Alexandrino Laranjeira de Alfredo Marceneiro
Mas a censura, não ficou por aqui, Armando Marques Ferreira, que na altura tinha um programa na Rádio Renascença, anulou uma entrevista, que tinha marcada comigo, dizendo-me, que após ouvir o disco, não dava cobertura a simpatizantes da guerra do ultramar, (!) .
O certo é que o disco nunca passou nas rádios.
A face "B" já se viu porquê. A face "A" por causa do tema "Sangue de Heróis", de Carlos Conde.
Houve também alguns amigos meus, que embora sabendo bem quais as minha convicções (e, em que águas eu navegava, desde os tempos de estudante) que me chamaram reaccionário, e mesmo explicando-lhes que o poema era do poeta talvez mais censurado de Fado, por ser anti-regime, o tema fala de patriotismo, que nos anos trinta, altura em que Hitler já estava no poder na Alemanha, e era do conhecimento geral, que queria dominar toda a África, e as colónias portuguesas na altura, eram por ele cobiçadas, qualquer português digno desse nome, se indignava, mas pasme-se, até nessa altura a censura, proibiu que a letra fosse cantada, porque era uma provocação!
Dois anos depois veio o 25 de Abril, e alguns desses que se desagradaram com o tema do Fado...... que me chamaram reaccionários, encontrei-os do outro lado ...... não digo mais.
Ainda hoje tenho todo o orgulho como português, do conceito do Fado, e aqui realço os seus versos finais,
Diz ao mundo, grita aos sóis
Enche os céus da nossa glória
Num clarão vasto e profundo
Que só com sangue de heróis
Portugal ergueu história
Nas cinco parte do mundo
Vítor Duarte canta:
Sangue de Heróis
Letra de Carlos Conde
Musica Fado Cravo de Alfredo Marceneiro
Nota: Esta página foi publicada pela primeira vez em 27 de Janeiro de 2008